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Artigo: Mentir é Feio

Foto: (Pathdoc/Shutterstock/ Divulgação)

Se há algo de essencial para o bom funcionamento de uma sociedade, trata-se da qualidade da linguagem e da informação que circulam em seu interior. É por isso que a educação é tão fundamental: cidadãos que passam pelo processo formal de ensino possuem uma maior capacidade de raciocinar, compreender e formar uma opinião sensata a respeito daquilo que acontece à sua volta. É isso o que se espera, ao menos.

Tamanha é a importância da linguagem e da informação que todas as sociedades elegem certas figuras que são autorizadas a falar para a coletividade. A fala dessas figuras “autorizadas” possui um valor especial, serve de bússola para o grupo se orientar. O cacique, o padre, o filósofo, o professor, o cientista, por exemplo, possuem (cada qual em seu grupo, cada qual da sua forma) uma certa respeitabilidade, um status social que os permite falar, e aquilo que é falado por eles é recebido pela coletividade com atenção, é algo relevante e seguro.

Contudo, atualmente parece ter se desfeito a velha divisão entre aqueles que podem falar para a coletividade e aqueles cuja opinião não possui tanto valor para os demais: todo mundo se sente apto a expor despudoradamente suas opiniões sobre política, ciência, economia, cultura, etc., tão apto quanto algum especialista ou alguém com experiência sobre esse ou aquele tema. Um dos efeitos dessa situação é o rebaixamento do nível do debate público.

Dentro de uma democracia essa questão é fundamental. Em um regime democrático o povo possui o poder de decidir aqueles que irão representar seus interesses, portanto a qualidade das informações nas quais baseia suas decisões é especialmente importante. É por isso que uma imprensa livre é um dos pilares de uma democracia. E é por isso que é justamente a imprensa um dos primeiros alvos de qualquer regime autoritário que deseje se perpetuar no poder.

Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazista, é quem proferiu a célebre frase: “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Uma mentira repetida torna-se verdade porque produz um forte efeito de convencimento naqueles a que se dirige, especialmente pelo fator emocional que contém: geralmente tais mentiras incitam afetos intensos e primitivos como o ódio e o medo. É o caso das “fake news”, que tanto tem dado o que falar.

Com o advento e imensa popularização das redes sociais (Facebook, Twitter, Whatsapp, Instagram, etc.), multiplicou-se imensamente a quantidade de informações a que temos acesso diariamente. Já a qualidade dessas informações, porém, parece não ter acompanhado esse crescimento.

Não há ainda filtros eficazes que garantam que tudo (ou ao menos boa parte) o que recebemos pelo Whatsapp ou pelo Facebook seja verdadeiro. Há, contudo, formas de verificar a qualidade da informação que recebemos. Podemos procurar saber se trata-se de uma fonte segura, de um veículo de imprensa reconhecido; podemos pesquisar nos vários sites e agências de checagem de notícias; podemos desconfiar de certas notícias sensacionalistas ou tendenciosas, desconfiar de postagens que incitam ao imediato compartilhamento, etc.

Trata-se de um fenômeno novo (ou um fenômeno tão velho quanto a linguagem, porém com uma nova roupagem), com o qual ainda estamos aprendendo a lidar. Isso, porém, não é desculpa para atitudes descuidadas e antiéticas como espalhar mentiras pelas redes sociais movidos por ódio, raiva ou medo. Portanto, considero que para tratar de um problema tão contemporâneo como esse, nada melhor do que as atemporais palavras de minha velha vó, que sempre me dizia: mentir é feio, menino!

Helder C. S. Cardoso é graduado em Psicologia (PUC Minas) e Especialista em Saúde Mental (Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais).

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