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Artigo de opinião: Por que pode ser tão difícil escolher a profissão?

E, para escolher, é preciso ter liberdade, e a liberdade acompanhada de incerteza pode causar muita angústia.

O jovem que está saindo do ensino médio pode ser pressionado a fazer uma escolha difícil: “Qual profissão eu quero para mim?”. Eu falo “pode” porque infelizmente essa não é a realidade de todos os jovens, especialmente os brasileiros. Nas classes mais baixas, a escolha profissional pode ser feita mais pelas poucas oportunidades que aparecem do que por uma escolha pensada. Contudo, felizmente a possibilidade de uma escolha pensada é uma realidade para muitos jovens. E, para escolher, é preciso ter liberdade, e a liberdade acompanhada de incerteza pode causar muita angústia.

Escolher uma profissão pode significar escolher o que fazer como atividade laboral pelo resto da vida, e existe uma pressão social para que essa escolha aconteça na adolescência. Não parece uma exigência excessiva para pessoas ainda imaturas? Minha resposta é simples: não. Espera-se que adolescentes saudáveis tenham maturidade suficiente para escolher uma profissão. Entretanto, pensamentos inadequados podem dificultar essa escolha.

Eu trabalho com orientação profissional e recebo na clínica jovens angustiados por não conseguirem tomar uma decisão. Neste artigo, quero explicar como um pensamento inadequado em específico pode dificultar a escolha, especialmente quando a ansiedade aparece. Na clínica, uma vez recebi um jovem buscando encontrar a profissão perfeita para o seu perfil psicológico, a sua personalidade. Ele buscava uma profissão que se encaixasse perfeitamente nos seus interesses, habilidades e valores. Em outras palavras, ele queria encontrar a sua vocação.

No início do seu desenvolvimento, a orientação profissional era denominada orientação vocacional. Os psicólogos buscavam o mesmo que o meu orientando: a profissão perfeita para a personalidade da pessoa. Apesar de a antiga nomenclatura ainda existir, a mudança aconteceu porque entendemos atualmente que não existe uma vocação. Vocação significa chamado, seja divino seja da própria natureza da pessoa. Acreditava-se que existia um chamado para uma profissão específica. Assim, a orientação vocacional buscava descobrir esse chamado. Os profissionais que ainda utilizam a antiga nomenclatura oferecem um novo significado para ela, mais pragmático: um conjunto de interesses e habilidades que podem ser adequados para o exercício de uma profissão.

Profissões nascem e morrem, elas existem para cumprir uma exigência da sociedade em um contexto histórico. Esse é um dos motivos pelo qual não existe uma vocação. O que existe são profissões que podem estar mais ou menos adequadas aos interesses, habilidades e valores de uma pessoa. Além desse novo entendimento, faz-se necessário compreender a busca por uma vocação. Para pessoas ansiosas, por exemplo, buscar a vocação pode ser uma forma de evitar a realidade (e a ansiedade), pois a descoberta de um chamado elimina a necessidade de escolher, como se a escolha já tivesse sido feita. Pessoas ansiosas sofrem por precisar escolher, duvidam de si mesmas constantemente. Assim, encontrar uma vocação seria uma solução perfeita. Todavia, uma solução impossível.

A busca por encontrar a profissão perfeita ou a vocação, contudo, existe não apenas por causa da ansiedade e do medo de escolher, a crença na existência da perfeição, em um nível abstrato, pode impulsionar essa busca. O desejo obsessivo pela perfeição pode levar a pessoa a querer um amigo perfeito, uma esposa perfeita, uma profissão perfeita. A pessoa pode acreditar que existe uma profissão perfeita para ela, que ela precisa apenas encontrá-la. Esse era o caso do orientando citado acima.

A consequência negativa dessa crença para a escolha profissional acontecia porque esse encaixe perfeito entre ele e a profissão simplesmente não é possível. Ele acreditava que se realmente amasse a profissão ele trabalharia sempre com prazer e seria suficientemente habilidoso. Acontece que mesmo amando uma profissão você pode não gostar de uns aspectos dela, da obrigação de exercê-la todos os dias ou não ser bom em todas as suas áreas. Existem aspectos negativos e positivos em quase tudo o que fazemos. Por isso  precisamos escolher com base tanto no coração quanto na razão, buscando fazer o que gostamos, porém observando os seus custos e benefícios.

Entender que o encaixe perfeito entre uma profissão e uma personalidade não existe é um passo importante para fazer a escolha com menos medo de errar. Como explicado anteriormente, o que existe são profissões mais ou menos adequadas aos nossos interesses, habilidades e valores. Sendo assim, muitas profissões podem se mostrar adequadas ao nosso perfil psicológico. Não existe a possibilidade de eliminarmos a necessidade de escolher. E escolher significa sermos responsáveis pela escolha que fazemos e, também, pelo que deixamos para trás.


Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal. Contato: (37) 9.9924-2528

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