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Artigo de opinião: O problema da procrastinação e desatenção

O mundo está vivendo uma crise de procrastinação e desatenção, especialmente a juventude, que precisa estudar para passar em um vestibular ou concurso ou que quer entrar para a academia ou melhorar a alimentação para emagrecer, por exemplo.

Os pais querem ensinar muitas coisas aos filhos, mas geralmente ensinar a sofrer e a se frustrar não está entre os seus objetivos. Pelo contrário, os pais costumam querer evitar que seus pequenos sofram. É claro que querer o sofrimento dos filhos não deve ser um objetivo dos pais, o problema é que a vida produz sofrimento, e precisamos aprender a suportá-lo para, depois, enfrentá-lo e superá-lo.

Frequentemente recebo na clínica pessoas se queixando de procrastinação e desatenção. Muitas chegam inclusive com um diagnóstico “autofeito”: TDAH. Quando isso acontece, costumam rapidamente pedir um encaminhando para um psiquiatra, quando já não o procuraram de antemão. O diagnóstico, que apenas descreve uma disfuncionalidade, ou seja, não aponta uma causa, estimula as pessoas a colocarem a causa do problema em uma disfunção química. Para isso, elas tomam um remédio. Os psiquiatras reforçam esse pensamento equivocado quando medicam sem avaliar a causa com precisão.

O mundo está vivendo uma crise de procrastinação e desatenção, especialmente a juventude, que precisa estudar para passar em um vestibular ou concurso ou que quer entrar para a academia ou melhorar a alimentação para emagrecer, por exemplo. Eles querem os benefícios, mas não os custos, não o sofrimento antes da vitória.

A habilidade de focar a atenção não é inata, é aprendida. Nós aprendemos essa habilidade por repetição, é um hábito que podemos desenvolver para aumentar as nossas chances de solucionar os problemas da vida. É uma habilidade importante, sem ela podemos percorrer os caminhos da vida sem uma direção ou, pior, sem a direção que queremos.

Os jovens procrastinadores ou desatentos frequentemente conseguem passar horas usando o celular ou focando a atenção vendo uma série, por exemplo, mas não suportam limpar a casa ou estudar por uma hora seguida. É muito mais fácil focar a atenção no que gostamos de fazer, assim nos habituamos facilmente. O contrário é muito mais difícil, porém temos a capacidade de nos habituar a fazer o que não gostamos. Na verdade, precisamos disso.

O que está acontecendo atualmente é que muitos jovens não estão aprendendo a fazer o que não gostam, não estão criando esse hábito. Aprendem a fazer somente o que querem, assim o sofrimento diante de uma contrariedade se torna grande demais. Isso facilita, entre outros problemas, a procrastinação e a desatenção. Não conseguir suportar o sofrimento faz a pessoa, às vezes desesperadamente, procurar uma outra coisa para fazer. Assim nasce a ansiedade. Limpar a casa e estudar, por exemplo, frequentemente são atividades que produzem um pouco de sofrimento.

Existem pessoas que sofrem de hiperatividade e desatenção por causa de uma disfunção química, elas precisam de uma medicação. Mas as evidências mostram que a grande maioria das pessoas com esses problemas apenas não aprenderam a focar a atenção e a suportar o sofrimento. Os celulares, com suas redes sociais e notificações constantes, e a velocidade acelerada da vida diária, certamente contribuem muito para a não construção de um hábito de focar a atenção. Contudo, aprender a suportar o sofrimento e a frustração são habilidades necessárias para evitar a procrastinação e melhorar o foco.

E como se aprende a suportar o sofrimento e a frustração? Apenas passando por eles e fazendo o que não se quer se aprende a suportá-los, a experiência ensina que somos fortes para enfrentá-los e que ficamos mais fortes ainda depois de superá-los. Então, suportar o sofrimento por fazer o que não se quer por um tempo é uma forma básica de criar esse hábito. Depois do período inicial de provação a tarefa fica mais fácil. Existem estratégias para facilitar esse enfrentamento, mas sabemos que evitar o sofrimento e a frustração, como usar o celular no meio dos estudos ou procrastinar por simples falta de vontade, apenas diminuem o senso de capacidade da pessoa e, assim, fortalecem a procrastinação e a desatenção.


Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal. Contato: (37) 9.9924-2528

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