Ainda existem muitas pessoas que acham que doença mental é frescura, aponta psicóloga
Psicóloga explica questões sobre o suicídio e a importância de se debater sobre o assunto para conscientizar a sociedade sobre a seriedade de uma doença mental.
Karine Pires
@karinepiress
Neste mês, foram feitas algumas campanhas como “Setembro Verde”, que promove debates e ações em relação à inclusão da pessoa com deficiência (PCD) nos espaços, além disso, também foi promovida a campanha “Setembro Amarelo”, que se propõe a conscientizar a sociedade sobre o suicídio e todas as questões relacionadas a ele. O Jornal Cidade conversou com a psicóloga clínica, Patrícia Ângela Pinto, que explicou sobre o assunto e o entendimento da psicologia sobre o tema.
Patrícia destaca a importância de se falar sobre o tema, pois há ideia de que falar sobre o assunto pode fazer com que estimule de alguma forma o suicídio. No entanto, ela ressalta que o tema deve ser debatido e que, inclusive, foi reconhecido pela OMS pela expressiva taxa de suicídio no mundo.
“O tema suicídio ainda é tido como um tabu na nossa sociedade em geral. Muitos acreditam que falar sobre o tema incita mais o seu cometimento, e é justamente ao contrário, fato que levou a OMS, em 2003 a criar o dia 10 de Setembro como o dia mundial de prevenção ao suicídio e desde 2015, no Brasil no mês de setembro é feito um trabalho de divulgação e conscientização sobre o tema. É importante saber que na grande maioria dos casos o suicídio é precedido por alguma doença mental ou uso abusivo e dependência de drogas ou álcool”.
Outro ponto importante citado pela psicóloga é referente a forma como as pessoas tratam as doenças mentais, pois muitas acham que doença mental é frescura.
“Olhar com mais seriedade para as doenças mentais é fundamental. Infelizmente , ainda existe muitas pessoas que acham que a doença mental é frescura e não percebem o seu agravamento nas pessoas com as quais convivem. A principal causadora de suicídios é a depressão, tida como a segunda maior doença incapacitante do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”.
Como a psicologia entende o suicídio e a importância da terapia
De acordo com Patrícia, a psicologia entende que o suicídio se trata de uma dor insuportável da alma, da essência e do eu. Por esta razão, a terapia é um dos caminhos para a pessoa poder conhecer mais sobre a própria dor e suas causas. Outro fator importante seria as formas de lidar com ela durante o tratamento.
“A psicologia entende o suicídio como uma dor insuportável da alma, da essência, do eu. E o suicídio é uma tentativa de matar a dor, quando a pessoa vê a morte como a única saída para por fim ao seu sofrimento. Com a terapia a pessoa pode olhar para essa dor, conhecer suas causas, se responsabilizar por ela e o mais importante descobrir, desenvolver e usar as ferramentas e recursos necessários para lidar com a dor. Nem sempre a dor pode ser extinta, mas isso não precisa ser necessariamente o fim. Muitas vezes é um recomeço, mais maduro, com mais aceitação, menos ilusório, mais real”.
Doenças mentais e pandemia da Covid-19
Segundo Patrícia, A pandemia da Covid-19 funcionou como um gatilho que desencadeou e agravou outras doenças mentais, mas ressalta que apesar da demanda grande, a maioria não busca o tratamento.
“Estamos tendo um aumento de demanda de pessoas em que a pandemia funcionou como um gatilho para o desenvolvimento de doenças mentais que podem se agravar e levar ao suicídio. Essa demanda com certeza é muito maior, mas a grande maioria não busca o tratamento. Na pandemia estamos tendo um agravamento das doenças mentais, o que tem sido chamado por especialistas como a quarta onda. São doenças como ansiedade, depressão e transtorno bipolar do humor, que até então não estavam sendo percebidos pela pessoa e que com a quarentena e o isolamento, se tornaram latentes. Infelizmente, já estamos tendo um aumento de suicídios. Sugiro que as pessoas usem esse momento para se olharem e se conhecerem mais, é possível e mais saudável que cada um possa sair desse momento caótico e de tantas incertezas mais fortes e com mais recursos internos para lidar melhor consigo mesmo, com o outro e com os conflitos e dificuldades que são inerentes da vida”, explicou.
O papel da imprensa
A imprensa tem um papel importante na divulgação de notícias sobre qualquer assunto e principalmente, relacionadas ao suicídio. A Revista 180 enfatiza em um artigo publicado a importância das cartilhas para os jornalistas terem cuidado na produção de reportagens, guiando assim para um trabalho cuidadoso que não desrespeite, desoriente o impacte negativamente a sociedade. Outra questão importante abordada é a conscientização do tema, fator importante para se debater o assunto de uma forma consciente.