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Movidos pela ambição

Não podemos viver simplesmente como um telespectador e ficar assistindo as coisas acontecerem de qualquer jeito. Temos que ser os autores das nossas vidas

Quando o jovem pastor Davi, no campo de batalha na antiga palestina se ofereceu para enfrentar o oponente Golias, o Rei Saul logo se manifestou, perplexo, dizendo-lhe que ele era apenas um rapaz e jamais poderia ter alguma chance de vencer o adversário, um guerreiro com mais de dois metros de altura e fortemente armado com lanças e espada, além de estar protegido por uma sofisticada armadura de bronze. Davi não se hesitou e disse que poderia vencê-lo. O Rei Saul, assustado com a sua coragem – o jovem pastor foi o único a ter a iniciativa dentre os soldados de seu exército – tentou convencê-lo, a pelo menos, levar consigo um escudo e uma espada, mas foi em vão. O pequeno pastor seguiu para o combate apenas com a sua funda. Do lado dos filisteus, um gigante experiente, perigoso, preparado e fortemente armado.

A história da qual fomos submetidos ao longo de nossas vidas nos convenceu que a vitória de Davi sobre Golias foi um milagre. Mas, segundo Malcolm Gladweull, autor do livro “Davi e Golias” ele descreve que na verdade Davi era o grande favorito. As desvantagens na maioria das vezes podem se tornar grandes vantagens e foi o que aconteceu nesta batalha. Davi por ser um rapaz franzino e por não fazer uso de espadas e lanças, desenvolveu uma habilidade incrível com a sua funda, capaz de acertar um pequeno alvo a longa distância. Portanto, quando ele arremessou a pedra contra o guerreiro filisteu, ele estava certo do alvo. Ele era grande, mas, muito lento, principalmente, porque usava uma armadura muito pesada. Mesmo Golias estando coberto por esta armadura, Davi pôde mirar a fronte de seu rosto e acertar a sua testa. O golpe foi certeiro e único. Portanto, se formos avaliar os dois combatentes, chegaremos a conclusão que a possibilidade de Golias vencer Davi, na ocasião da qual se puseram ao combate, era muito pequena. Segundo um documentário da History Channel, a velocidade que a pedra atingia ao ser atirada por Davi com sua funda, quebrava a barreira do som, atingindo uma força de mais 3.000 newtons, capaz de gerar uma onda de choque que percorre o cérebro e o faz colidir com o crânio, danificando de modo irreparável o tecido nervoso, em tal extensão, que ele não pode funcionar mais. A habilidade de Davi na época poderia ser comparada com as habilidades de um atirador de elite dos tempos atuais.

Além das “vantagens das desvantagens” e das “desvantagens das vantagens” que podemos extrair desta história como fez Gladweull em seu livro, percebo que podemos aprofundar no contexto e tirar outro ponto também relevante, onde o desejo foi uma força poderosa para que o jovem pastor conquistasse seu propósito. Ele somente foi para o campo de batalha porque primeiro desejou fazê-lo, não foi obrigado – pelo contrário foi desmotivado por seu Rei – e segundo, porque tinha a ambição de conquistar o respeito para Israel e dar ao seu povo uma supremacia política e territorial.

“Ao longo da travessia, eu só pensava em coisas boas. Em energia positiva. Só pensava em voltar ao Brasil e mostrar às pessoas que a gente pode conquistar tudo o que deseja. Basta trabalhar duro e nunca desistir”. Estas foram as palavras da paraibana Kay France, a primeira latino-americana,e mais nova atleta do mundo até então, a atravessar o Canal da Mancha. Isto aconteceu no dia 19 de agosto de 1979. Kay France, aos 17 anos, nadou em águas profundas e geladas por 11h36 ininterruptamente, saindo da praia de Shakespeare, Dover, Inglaterra as 10h57 e chegando a praia de Wissant, França, as 22h53 depois de superar 70 km de distância contra fortes correntezas. O impressionante desta façanha é o fato de que Kay, quando desejou fazer a prova, tinha apenas 12 anos e ainda não sabia nadar.

Fica evidente que o desejo é o início de toda realização, seja ela pequena ou grandiosa. Seja sem expressão, ou seja, para ficar na história. A ambição move o mundo. Todavia, encontramos no dia a dia, pessoas reclamando que não conseguiram realizar determinados sonhos e projetos, sempre se justificando do fracasso com desculpas. Quando aprofundamos na questão o primeiro ponto notado é que a pessoa não desejou de fato a realização do projeto, por ter dúvidas ou por não acreditar, e até mesmo por não ter uma ambição formatada em sua cabeça.

Davi quando caminhou para o duelo desejou resolver uma pendência que afligia o seu povo. A questão não era simplesmente abater o soldado adversário e se tornar um mito e fazer parte da história para sempre. Não foi isso. Seu desejo foi alimentado pela ambição de conquistar o respeito e a estima para os israelitas. E ao acreditar em suas habilidades, foi capaz de obter o resultado desejado.

Nas nossas atividades profissionais podemos ver o dia passar e deixar as coisas acontecerem de qualquer jeito e depois reclamar que os resultados não foram bons. Podemos acordar de manhã e irmos para trabalho como se fosse somente uma obrigação e depois achar que fomos injustiçados ao não sermos promovidos. Como empreendedores, podemos ver o faturamento cair e colocar toda a culpa no governo. No entanto, podemos reagir e fazer diferente. Ao invés de nos deixar abater frente aos desafios, podemos reconhecer nossa ambição, que seja capaz de nos estimular a buscar a conquista dos nossos objetivos. Podemos acordar de manhã, ir para o trabalho e nele se realizar como alguém capaz de ser dono da própria vida. Podemos ver as vendas dos nossos empreendimentos crescerem ainda que o mercado esteja depressivo e a economia de mal humor.

Nada que é bom e promissor é fácil de conquistar. Por isso, deseje fazer as coisas, tenha ambição para construir seu legado. Acredite no seu potencial, ainda que todas as pessoas a sua volta não lhe deem a atenção merecida. Para qualquer projeto ser executado e para um sonho ser realizado é necessário um desejo verdadeiro que seja capaz de tirá-lo do lugar.

Quando alguém é capaz de fazer uma travessia de 70 km a nado em águas geladas por 12 horas, vencendo a correnteza e superando os riscos de ser atacada por tubarões, essa pessoa nos faz ver os desafios de forma diferente. E partindo de exemplos assim, não podemos permitir nos enganar, onde sempre estamos buscando argumentos para contornar o nosso comodismo e pressuposta insignificância.

Contudo, deixamos de realizar sonhos porque achamos que não temos competência para tal, porque não somos inteligentes o suficiente, porque não temos formação profissional adequada, porque não temos oportunidade, porque não somos bons o bastante, porque nascemos no lugar errado. Porém, os motivos não são estes. Sonhos frustrados ocorrem principalmente porque não desejamos realizá-los de fato.

Reconhecer e enfrentar as nossas fraquezas sempre é primordial para sabermos por onde ir. Começar verificando quais são os nossos reais desejos pode ser o primeiro passo. Como falei em outro artigo, “saber o que queremos faz toda diferença”, é primordial para não ficarmos perdidos pelos caminhos da vida. Uma vez sabendo o que queremos precisamos construir nossas ambições para nossa realização pessoal e profissional. Agora, muitos veem a ambição com preconceito, como algo negativo, confundindo-a com a ganância. No entanto é importante saber suas diferenças. No universo corporativo, os profissionais que tem ambição são mais valorizados, pois enquanto buscam crescer dentro da organização eles contribuem para o crescimento da empresa. Além disso, são profissionais éticos que cultuam valores e seguem princípios, e estão sempre voltados para o bem coletivo, procurando ajudar a desenvolver a ambição das pessoas a sua volta.  Já as pessoas gananciosas, tem características egoístas e não medem esforços para conquistar seus objetivos. Tem perfis calculistas, são dissimuladas e normalmente são inteligentes, o que as fazem perigosas. As pessoas gananciosas são ainda individualistas, centralizadoras e arrogantes, não sabem compartilhar e não tem limites. Contudo, a ambição não tem nada a ver com a ganância. Enquanto uma é promissora a outra é destruidora. A ambição nos faz sair do lugar, executar projetos, cumprir metas, conquistar posições profissionais, adquirir bens materiais, unir pessoas em prol de um objetivo, vencer desafios e tornar sonhos em realidades.

Os grandes homens da história e seus grandes feitos foram movidos por suas ambições. O avião que nos transporta com segurança, conforto e agilidade é fruto da ambição de Santos Dumont, já o avião de guerra é uma consequência da ganância humana. A ciência que busca a cura para as doenças é movida pela ambição, mas a indústria farmacêutica que manipula as descobertas é movida pela ganância. A empresa que gera empregos, oportunidades de carreira, exerce meritocracia, pratica a responsabilidade socioambiental, respeita parceiros, fornecedores, comunidade e clientes e produz riquezas paras seus sócios ou acionistas é movida pela ambição, mas a empresa que passa por cima de tudo isso para acumular fortuna a qualquer custo, esta é movida pela ganância. Warren Buffett disse em uma entrevista à Revista Exame que dá expediente todos os dias em seu escritório, inclusive aos sábados, mas que não faz isso pelo dinheiro, até porque, a partir de um determinado ponto, o dinheiro não tem mais utilidade.  Aos 84 anos de idade o que lhe move é a conquista e não o acúmulo da fortuna, a qual vem sendo destinada a projetos sociais espalhados pelo mundo. Seu comportamento é um exemplo de pessoas movidas pela ambição e não pela ganância.

É importante sabermos diferenciar estes dois comportamentos para que possamos ter uma vida equilibrada e bem-sucedida. Não podemos viver sem ambição, sendo simplesmente um telespectador e ficar assistindo as coisas acontecerem de qualquer jeito. Temos que ser os autores das nossas vidas e desejarmos conquistar os objetivos traçados, seja eles profissionais ou pessoais. Porém, é fundamental a gente eliminar qualquer traço de ganância que possa tentar nos envolver.

Se Davi fosse um pastor sem ambição, jamais saberíamos de sua existência. Ao atravessar o Canal da Mancha, Kay France escreveu sua história. E qual é a história que você quer escrever para sua vida? Qual é a sua ambição? Pense nisto!

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