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Sua excelência, o noiado.

Na verdade, o camarada nunca quer ser chamado de alcunha nenhuma, de apelido algum. Contudo, ao iniciar-se nas drogas, todas as pessoas recebem o nome de “noiado”.

Noiado serve então para expressar qualquer tipo ligação da pessoa com as drogas, excetuando-se o tabaco e o álcool, que no caso são chamados de “fumacento, chaminé, fumacê, desodorante de carvão queimado, e outros”; são chamados também de “bebum, cachaceiro, tonto, dedão, aguaceiro e outros”.

Noiado é apenas para o usuário de drogas. Qualquer delas. Anda sempre muito mal arrumado pois não toma banho. A abstinência não o deixa sossegado, por isso ele não vê as horas passarem. Seguem-se os dias e ele fica com aspecto de mendigo. Noiado parece mendigo mas não é mendigo, é apenas um noiado. Fica assim porque prossegue muito ocupado com o seu vício, e apenas isso pra ele é importante ou interessante.

Não tem vida pessoal. Sua diversão é seu vício, seu vício sua diversão. Tudo aquilo que fazia como lazer no passado ele ignora. Não o atrai mais. Igreja, religião, amigos, tudo atrasa a sua busca por prazer, por alegria, por aventura. Quase nunca anda em grupos. Não é por causa da polícia, não é por nada… É uma questão econômica. Quanto mais gente, mais divisão. E noiado nenhum aceita dividir a “ponta” com quem não contribuiu para com ela.

Ninguém convida assim, deliberadamente ninguém para “carona”, a não ser que leve uma boa vantagem com isso. Aliás, normal mesmo são as brigas e as confusões por causa da química. Boa parte dos noiados defende com unhas e dentes a sua parte. Nem que custe a liberdade ou os dentes. Poucos inclusive. Há que se ter paciência.

Noiado quando encontra o “ponto” fica por ali, gravitando em seu entorno. Onde tem noiado tem “boca”. Noiado não para num lugar à toa. Se tem noiado tem boca. Se tem noiado tem droga. Se tem droga, tem noiado. É um círculo vicioso que não se acaba da noite para o dia.

Se a boca é nova, os rostos são menos conhecidos. Se a boca é antiga, os camaradinhas são os mesmos.

Noiado nunca tem dinheiro. Ninguém vê noiado em exposição, em festas do ‘Tatau’, nada. Noiado beira apenas festas populares, em praças públicas.

Quem tem um noiado em casa tem um problema financeiro. Noiado não tem carro, não tem moto. Ele cheira, fuma, usa todos os seus bens e os dos familiares que estão junto à ele. Se tem carro e moto não é noiado, é “usuário”. E usuário é um nome mais robusto, mais carinhoso com o qual você expressa a condição de ‘noiado’ de uma pessoa de uma forma que não agrida a sua imagem de noiado.

Ninguém quer ter fama de noiado. Certo é que existem médicos noiados, dentistas noiados, donos de casas de lanches noiados, pintores noiados, artistas noiados, comerciantes noiados, pessoal de academia noiado, auxiliares de produção em empresas, noiados, serventes de pedreiro noiados, e várias outras profissões nas quais os noiados se investem e procuram se abrigar. Sei que a profissão não tem nada a ver com a condição do camarada de ‘noiadêz’, sem dúvida alguma. É só força de expressão.

E ninguém está livre de ter um vizinho noiado, de ter um patrão noiado, um amigo noiado. Está tudo aí. Aí está. Estou pensando em abrir um negócio baseado nas características dos noiados, em sua forma de viver, mas não encontrei ainda algo de bom nisso tudo. Não encontrei nada além de dor e sofrimento. Ser noiado é pedir pra sofrer.

E depois de cansar de sofrer, vem a parte mais difícil…

Histórias que o povo conta…

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