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Se é para sujar, suje-se gordo!

Nunca nos deparamos com tanta gente que sempre soubemos desinteressada por qualquer assunto político e que, agora, monta cartazes reacionários e sai gritando palavras de ordem em relação aos governos federal e de estado, mas interessantemente conserva-se distante e cheio de letargia quando o assunto é a prefeitura do município em que mora, optando pelo silêncio e a convivência pacífica com o bem e o mal, com Deus e o diabo.

Como o hábito de leitura é muito baixo no Brasil e os meios de informação se acham sob o controle de uns poucos empresários, que insistem em colocar seus interesses e desejos particulares acima dos anseios da população, transformando-se numa espécie de partido político sem inscrição nem voto, mas capaz de promover um estrago completamente sem controle na democracia brasileira, a tal ponto que, mais que flertar, abraçaram e estão irmanados às forças políticas mais reacionárias do País, os brasileiros não percebem que eles moram é nas cidades e que o primeiro passo da luta política tem que ser dado no âmbito do município, onde 75% do desvio de mais ou menos 500 bilhões dos cofres públicos acontecem anualmente.

Nota-se claramente que a proximidade entre os cidadãos nos municípios gera o estranho fato de as pessoas aceitarem as falcatruas de vizinhos e conhecidos em nome de uma falsa convivência e harmonia social, uma vez que o silêncio serve, por exemplo, de lastro para a livre ação de agentes que depredam o meio ambiente – colocando em risco até o abastecimento d’água dos municípios – e de traficantes de drogas, que tanto viciam crianças e jovens quanto destroem as famílias, que pensavam (e pensam) estar salvas à medida que se mantenham distantes do problema. Esse comportamento anômalo é tão entranhado em nossa sociedade que as câmaras municipais são useiras e vezeiras na concessão de títulos e honrarias a pessoas reconhecidamente bandidas, mas que circulam com toda pompa e circunstância nas altas rodas sociais, que medem o valor do indivíduo pela conta bancária. Estamos aí diante do “Suje-se Gordo!”, conto de Machado de Assis, que nos aponta que ladrão que muito rouba costuma ser endeusado e festejado.

Nossa condição de escriba menor há tantos anos nos levou a muitos contatos e viagens por cidades do interior mineiro e pudemos perceber em todas elas o problema das drogas e do banditismo, que na maioria das vezes tem nome e endereço, mas não sofre qualquer combate efetivo e, quando ocorre uma apreensão de carregamento de maconha e cocaína ou de munição, armas, pneus, bebidas e eletrônicos, os produtos não têm dono, repetindo aquele caso do helicóptero da família do senador mineiro Zezé Perrela que transportava meia tonelada de cocaína. Absurdamente, a cocaína revelou-se sem dono e a nave foi devolvida aos proprietários, que desconheciam o carregamento – ou seja, não detinham o domínio do fato!

A nosso ver, quem não consegue agir nem tem compromisso com as mazelas que maculam as calçadas pelas quais circula todos os dias, não pode se nos apresentar como cidadão politizado, pois quem não domina nem controla a parte que lhe cabe não tem legitimidade em apontar caminho ou solução para o todo. Ou seja, como tudo na vida, a participação política deve ser feita passo a passo, ainda mais quando se sabe que o município é a célula-mãe do sistema federativo brasileiro.

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