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Rafaela Miranda está entre as vozes femininas que dominam o sertanejo

Há seis anos, a mineira Rafaela Miranda, 20, só queria uma chance de mostrar sua música, mas foi recusada por todas as boates de Goiânia, maior reduto do sertanejo no Brasil. Há cinco meses, porém, o jogo virou. Ela se tornou uma das maiores apostas da AudioMix, escritório que também cuida das carreiras de artistas como Jorge e Mateus e Wesley Safadão.

“Eu estava correndo atrás do meu sonho, mudei de Lagoa da Prata para buscar o sonho do sertanejo. E não foram poucas as vezes que o dono do bar sequer ouvia a minha voz e falava ‘não’ por eu ser mulher. Eles achavam que não ia agradar o público, diziam que mulher tinha a voz muito fina, um preconceito daquele sertanejo bruto. Hoje estou nas rádios, tenho 150 músicas autorais e muita coisa para gravar. A percepção do que a mulher tem a dizer também mudou”, diz Rafaela, descoberta na internet por Vitor Leonardo, empresário que também revelou Cristiano Araújo.

Ela é só um dos exemplos mais recentes de como as mulheres têm modificado o sertanejo universitário e conquistado não só o mercado, mas também fãs interessados em discursos que fujam das observações óbvias masculinas. Só para se ter uma ideia do boom, levantamento do Ecad deste ano mostra que as duas músicas mais tocadas nas rádios brasileiras atualmente são “Medo Bobo”, de Maiara & Maraisa, e “50 Reais”, de Naiara Azevedo. Ambas sertanejas.

A onda tem sido tão avassaladora que, nesta semana, a atacante Marta foi filmada na concentração da seleção feminina de futebol, em momento de folga durante os Jogos Olímpicos, interpretando ao violão “Duvido Você não Tomar Uma”, música de Simone, 31, e Simaria, 33, outro fenômeno do sertanejo contemporâneo. A dupla baiana, que passou sete anos no forró, excursionado como backing vocal de Frank Aguiar, é uma das principais responsáveis por discursos de empoderamento no sertanejo. “Já ouvimos gente dizer que mulher tinha que ficar no backing vocal. A gente sempre soube que podia ir muito além. E decolamos quando vimos que havia público afim de um discurso diferente”, diz Simone.

Quem também percebeu essa necessidade foi a dupla Maiara e Maraísa. “A gente escuta todo tipo de história, por exemplo, meninas que começaram a se olhar mais no espelho, se sentiram bonitas, saíram dos quartos, melhoraram a auto-estima com a música ‘Se Olha no Espelho’, por exemplo”, diz Maiara.

As irmãs gêmeas nascidas em São José dos Quatro Marcos (MT) e criadas em Araguaina (TO), hoje fazem 25 shows e rodam uma média de 60 mil quilômetros por mês. Mas também foram discriminadas no início da carreira, não só por serem mulheres. “A gente não tinha portas abertas, não tinha espaço para mostrar nossa verdade, chegamos a sofrer preconceito por sermos mulheres e por sermos gordinhas também”, revela Maiara. “Cheguei a ouvir de um empresário: ‘menstruou, não faz sucesso’”, completa Maraisa.

Apesar disso, ela ressalta que não vê machismo no meio do sertanejo. “Não vejo como machismo, mesmo porque os homens sempre gravaram nossas músicas. Era uma coisa de costume mesmo, e agora isso está mudando, as pessoas estão acostumando a ver a gente no cenário”, completa Maiara.

Toda essa mudança tem nome e sobrenome. Considerada a pioneira entre as vozes femininas no sertanejo, Marília Mendonça, de apenas 20 anos, foi a primeira a despontar em carreira solo nesse movimento pós Roberta Miranda nos anos 1980 e, recentemente, depois da ascensão de Paula Fernandes nos anos 2000. Aos 18 anos, Marília já era regravada por Cristiano Araújo (“Saudade Idiota”), Jorge e Mateus (“Calma”) e até por Wesley Safadão (“Muito Gelo e Pouco Whisky”), antes mesmo de lançar a carreira solo. Hoje, a artista que chegou a se apresentar por R$ 50 para ajudar em casa, tem um dos cachês mais respeitados do sertanejo, girando em torno de R$ 150 mil por show.

Mesmo com algumas críticas ao feminismo, Marília reconhece que a presença das mulheres sacudiu o meio musical com força a partir de 2014. “A gravadora esperou para me lançar. Teve todo um trabalho anterior. Não fui simplesmente descoberta. Mas é claro que a minha presença, as regravações por outros cantores e duplas mais conhecidas, tudo isso motivou outras duplas de mulheres, carreira solos femininas. Com outras abordagens. Mas eu sempre ressalto que tanto homens quanto mulheres interpretam minhas músicas. Não faço música só para mulher, não tem esse viés”, diz.

DISCURSOS. Uma das artistas com letras mais combativas no sertanejo, a paranaense Naiara Azevedo, 27, tem uma motivação específica para compor: as traições e as decepções com homens. “De tanto chifre, resolvei botar para fora. Não é choradeira, não. É a vingança”, diz a artista. Longe do enredo de bebedeiras e “sofrência”, Naiara segue a linha bem-humorada e feminista.

Fique de olho…

Andrea Andreolli. Aos 33 anos, a cantora paulista é backing vocal da dupla Zezé Di Camargo e Luciano e pretende lançar a carreira solo em breve.

Laís Yasmim Lucas. Apesar de ter transitado por gêneros como o jazz, desde 2013 a cuiabana de 25 anos se dedica ao sertanejo pop. Com cinco discos, seu trabalho mais impactante é o de 2013, homônimo, que contém o sucesso “3 Horas da Manhã”, com participação de Gusttavo Lima.

Gabi Luthai. Mineira, 23 anos, ficou conhecida por seus vídeos no YouTube, com covers de pop, funk e sertanejo. Tem um álbum de estúdio, homônimo, lançado em 2014. Somente no ano passado, porém, ela lançou o single “Feito Boba”, com pegada sertaneja forte.

Por: O Tempo

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