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Padre Aldelzire fala sobre a situação do rio São Francisco e endividamento das famílias

Precisamos ser atuantes juntos aos organismos que defendem o meio ambiente”, diz Padre Adelzire

 

 

Em entrevista ao Jornal Cidade, religioso opina, entre outras coisas, sobre a situação do rio São Francisco e endividamento das famílias

 

Nascido aos 18 de julho de 1961, padre Adelzire Morais irá completar dia primeiro de dezembro 14 anos de vida sacerdotal. Com uma participação ativa em vários movimentos comunitários, o religioso tem uma opinião firme e clara com relação ao envolvimento dos fiéis nas questões que impactam diretamente a sociedade, como a política e o meio ambiente.

 

Leia, a seguir, a entrevista exclusiva concedida ao Jornal Cidade.

 

 

Jornal Cidade: Como iniciou sua trajetória sacerdotal?

Pe. Adelzire: Tenho 53 anos. É uma caminhada que, aos poucos, fui sentindo esse chamado. Fiz a escolha de ir para o Seminário, me preparar fazendo o Propedêutico, a Filosofia e a Teologia. É uma escolha que foi se revelando. Fui abrindo o meu coração no decorrer do tempo. Fui descobrindo que era o que eu queria, era minha escolha de vida. Encontrei na vontade de Deus a minha vontade. Em minha família somos nove irmãos. Éramos onze. A mamãe era devota de Santo Antônio e tinha fé na interseção de Nossa Senhora. E o papai, com a sua forma de ver a vida e a sua fé em Nossa Senhora e São José, passou essa fé para todos os filhos. Seguimos uma vida religiosa, buscando melhorar a cada dia.

 

Jornal Cidade: O senhor participa ativamente da comunidade, inclusive dançando junto aos congadeiros. Como é a vida de um sacerdote que tem um envolvimento com a comunidade muito grande?

Pe. Adelzire: Venho de uma família de congadeiros, com muitos tios e primos que são atuantes. Faz parte de nosso caminho de fé. Esse envolvimento acontece naturalmente na medida em que percebemos que é no envolvimento que descobrimos um ser humano maravilhoso a ser desvendado.

 

Jornal Cidade: A TV Aparecida e a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) realizaram um debate com os candidatos presidenciáveis. Como o senhor avalia o papel da igreja nessas eleições e a importância desse momento?

Pe. Adelzire: A Igreja Católica sempre esteve presente em todos os movimentos, em todas as lutas, através dos padres, freiras, seminaristas, bispos, leigos e leigas, lutando por um país mais justo e digno, por um país onde as pessoas não tenham que mendigar pela saúde e cultura, onde todos têm o mesmo valor. Por isso a participação da igreja é importante, para auxiliar as pessoas a tomarem as suas decisões.

 

Jornal Cidade: Um dos principais temas do debate entre os candidatos é a economia. O poder de compra das famílias aumentou nos últimos anos e, na mesma proporção, o endividamento também aumentou. Essa situação econômica do país impacta no dia-a-dia da Igreja?

Pe. Adelzire: Por um lado há um crescimento do poder de compra das famílias, mas é preocupante. Muitas vezes, pelo entusiasmo do crédito fácil, muitas pessoas se desorganizam financeiramente. E depois voltam sobre eles os juros altos. Muitas famílias estão endividadas porque não fizeram as contas, não avaliaram se a renda seria suficiente para pagar determinada dívida. Tem o lado bom, pois as pessoas estão tendo acesso a muitos bens que há alguns anos não imaginávamos ter. Mas, ao mesmo tempo, tem que ter esse cuidado, não comprometer mais do que 70% da renda total da família.

 

Jornal Cidade: Isso impacta diretamente nos trabalhos sociais e religiosos da Igreja?

Pe. Adelzire: Normalmente encontramos muitas famílias desestruturadas por causa do alto nível de endividamento, casais brigados… Nossa orientação é pensar muito antes de assumir uma dívida, porque depois isso pode trazer problemas para todos na família.

 

Jornal Cidade: O meio ambiente é um assunto que está na pauta nacional, principalmente por causa da seca da nascente do rio São Francisco. Os vereadores de Santo Antônio do Monte rejeitaram recentemente a aprovação de um loteamento que, segundo eles, poderia trazer transtornos ao córrego Gandú, que abastece a cidade. A Igreja teve um papel determinante ao orientar os fiéis sobre a importância desse projeto que seria votado na Câmara. Qual a sua opinião sobre o interesse das pessoas por esses temas?

Pe. Adelzire: Sou natural de Lagoa da Prata. O Rio São Francisco passa em Lagoa da Prata. A gente acompanha, no decorrer dos tempos, a questão do desmatamento, que é um desrespeito enorme. Isso se volta contra o próprio homem. É o que está acontecendo. Temos que assumir o nosso papel de cidadãos, pois é a nossa vida que está em jogo. Precisamos ser atuantes juntos aos organismos que defendem o meio ambiente e participar, exercer a cidadania. Quando falamos da Câmara de Vereadores de Santo Antônio do Monte na questão da votação que rejeitou o loteamento, foi um exemplo de cidadania. Os vereadores perceberam que o clamor do povo era naquele momento em prol da defesa do meio ambiente e rejeitaram o projeto.

 

Jornal Cidade: Por falta de chuva, muitas cidades da região estão tendo problemas no fornecimento de água, inclusive, Santo Antônio do Monte. É possível comprovar que várias pessoas utilizam a pouca água que temos de forma irracional, gastando excessivamente. Por outro lado, temos uma empresa em Lagoa da Prata que retira milhões de litros de água do Rio São Francisco para irrigar os seus canaviais todos os dias. Existe uma iniciativa que está sendo discutida em redes sociais sobre a mobilização da população em torno dessa causa. Qual é a sua opinião sobre esse tema?

Pe. Adelzire: O que penso é sobre a importância da participação da população em cobrar dos mecanismos de defesa um posicionamento mais atuante na questão do meio ambiente.

 

Jornal Cidade: Como o senhor avalia o pontificado do Papa Francisco à frente da Igreja Católica. O que o difere do seu antecessor?

Pe. Adelzire: São dois homens que trazem para a humanidade um exemplo bonito. O papa Bento organizou muitas coisas dentro da Igreja, possui um conhecimento teológico-filosófico profundo. Ele abriu a Igreja para os meios de comunicação, chamou os sacerdotes a uma vida mais profunda de oração. E agora o pontificado do papa Francisco, que vem caminhando conosco na questão da humildade, da pureza de coração, da participação, de estar mais próximo do povo de Deus, mais próximos dos que sofrem, mais próximo dos necessitados. Ele fala que o pastor tem que ter o cheiro das ovelhas.

 

Jornal Cidade: Para finalizar, o espaço está aberto para que o senhor fale sobre o trabalho da Igreja em Santo Antônio do Monte.

Pe. Adelzire: Hoje temos três paróquias. Na Paróquia Santo Antônio estamos eu e o padre Carlos César. Na Paróquia São José estão o padre Adelson e o padre Marcelo. E na Paróquia São João Bosco está o padre José Batista. Com a criação de mais uma paróquia, melhoramos o atendimento aos fiéis. Trabalhamos todos em prol de um bem comum. Estamos em um tempo novo, onde houve uma evolução da liberdade, do crescimento humano. Houve um diálogo bem profundo na Igreja, onde o ser humano é chamado a viver com uma intensidade maior a sua vida, trazendo Deus para sua vida. É um tempo novo. E como já disse um grande filósofo e teólogo, que nesse tempo o cristão seria um místico ou não seria nada. Fica o conselho de que todos devem buscar ter um conhecimento mais profundo de Deus.

 

 

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