fbpx
jc1140x200

Nilson Bessas – O lado bom da crise

Recentemente, numa entrevista concedida à Endeavor, Elie Horn, fundador e dono da Cyrela, uma das maiores construtoras do Brasil, disse que os melhores momentos para os seus negócios foram os momentos em que o mercado passava por algum tipo de crise e dificuldade, porque foram nestes momentos que ele pôde consolidar sua empresa. Segundo ele, a crise imobiliária americana de 2008 que afetou economias de quase todo o mundo, lhe trouxe grandes benefícios e grandes oportunidades de negócios.

Vejo a sua declaração como incentivo às nossas carreiras empreendedoras. Temos que refletir sobre o tema e aproveitar melhor as dificuldades que enfrentamos em nossos negócios no dia a dia. Percebo que boa parte dos empreendedores utiliza das dificuldades e das crises para acobertar ou explicar seus fracassos. Quase todos os insucessos são atribuídos ao governo, à globalização e à concorrência desleal, e nunca, a si mesmo, no que reza à sua conduta e as suas atitudes inadequadas.

Uma vez ouvi contarem uma história, que não sei se é baseada em fatos reais ou se é somente uma parábola, mas que explica este assunto. É mais ou menos assim: um homem de meia idade, com muita determinação e entusiasmo, produzia quitandas todas as manhãs e as vendia na beirada de uma rodovia aos viajantes que por ali passavam. Logo, com muito trabalho, qualidade dos produtos e com um ótimo atendimento aos clientes ele montou uma pequena loja. Pouco tempo depois, fez uma ampliação no estabelecimento e o negócio continuou crescendo. Alguns anos depois, pôde novamente ampliar a empresa e montou uma bela estrutura para acomodar a grande clientela. E sempre foi assim, fazendo investimentos no negócio para crescer e encantar seus clientes. Os anos passaram e o sucesso veio como resposta ao seu comprometimento com a qualidade. Todos os dias sua empresa recebia centenas e centenas de pessoas que passavam por aquela estrada. Depois de algum tempo, seu filho retornou da faculdade lá da capital com o diploma na mão e pronto para apoiar seu pai na administração daquele próspero negócio. Porém, o jovem que se dizia bem informado e conectado com o mundo globalizado, voltou preocupado com uma crise que ameaçava se instalar no mercado, e logo, sugeriu seu pai a ter mais cautela com os investimentos e com as despesas da empresa. Orientou então, seu pai a reduzir o número de funcionários e a cortar parte dos insumos para a fabricação dos produtos. A ideia proposta era aumentar os recursos em caixa e ter gordura financeira suficiente para aguentar a suposta crise. Seu pai – por sempre ter usado seu tempo na produção de alimentos de qualidade e no atendimento diferenciado aos clientes – nunca teve tempo para falar de crise, e, no entanto, não sabia como ela poderia lhe afetar. Mas, preocupado com a gravidade do assunto, seguiu as orientações do filho doutor e fez o que ele sugeriu: demitiu parte da equipe e reduziu a qualidade dos alimentos para economizar recursos. O tempo passou e não deu outra: os clientes perceberam a qualidade inferior dos produtos e do atendimento e deixaram de frequentar e consumir na sua empresa. Com o tempo, as portas do estabelecimento foram fechadas e o velho empreendedor pôde apenas guardar saudades do tempo de grandes movimentos e de alto faturamento. E o jovem filho se vangloriou dizendo: eu não disse! A crise estava mesmo por chegar.

Imagino esta história acontecendo todos os dias nas empresas, principalmente, nas pequenas e médias empresas. Muitos acham que a solução para os momentos difíceis está na redução dos custos de qualquer jeito. No entanto, reduzir e otimizar custos e despesas sempre são salutares em qualquer negócio para torná-lo competitivo e lucrativo, e deve ser pensado e trabalhado o tempo todo, mas, nunca se pode cortar custos que venham afetar a qualidade dos produtos e dos serviços ou que venham prejudicar o atendimento aos consumidores. Sobreviver às crises depende, em primeiro lugar, da qualidade que uma empresa se propõe em produzir e oferecer produtos e serviços, e, contudo, deixar os seus clientes satisfeitos, e até, encantados. Para se ter uma ideia, a Disney World não sofreu com a crise imobiliária que desacelerou a pujante economia dos Estados Unidos em 2008. Seus parques temáticos ficaram com uma ocupação de turistas em padrões normais. Isso ocorreu porque esta companhia prima ao atendimento e ao encantamento de seus clientes. E isso vale não somente para os seus espetáculos, pois, o que mais se encanta na Disney é a limpeza, a organização, a pontualidade, a capacidade de se resolver problemas inesperados com os visitantes e o sorriso no rosto de seus atendentes, ou seja, a energia positiva que envolve a todos que por lá passam.

Entretanto, chegamos à conclusão de que as crises são utopias e não são reais? Não. Não é isso. As crises estão sempre ocorrendo pelo mundo a fora, sendo fruto do desequilíbrio da economia ou uma resposta de algo inconsequente construído e alimentado por um período de tempo, que num determinado momento não se sustenta mais e vai à tona. Elas acontecem e podem causar traumas irreversíveis às empresas que não estiverem preparadas para lidar com as suas ameaças. Porém, estar preparado para lidar com elas exige um comportamento profissional, pautado em estudos e análises sobre o cenário. Não se pode tomar decisão por opiniões particulares de um ou de outro, ou por boatos de especuladores. É importante diagnosticar o ponto onde uma possível crise pode afetar mais o negócio. No geral, as crises provocam retração da economia e a redução do volume de vendas das empresas, causando uma geração de caixa negativo. E caixa negativo gera prejuízos e descumprimento de compromissos, ou seja, inadimplemento de contratos.

Mas, pelo jeito, as crises têm seu lado bom. Isto mesmo. Segundo Elie Horn, da Cyrela, a crise mundial de 2008 foi uma benção para ele, onde o mesmo se viu motivado a priorizar a consolidação do negócio e não crescer de qualquer jeito. Conforme suas palavras, tempos de euforia no mercado são atraentes para empresas e investidores, mas escondem armadilhas, pois, são nestes momentos de entusiasmo que mais ocorrem erros de estratégias e ações. Otimismo exagerado estimulam os empreendedores a darem passos maiores que as próprias pernas.

Na verdade, a crise também é útil para selecionar as empresas no mercado. Os empreendedores mais preparados saem fortalecidos da crise. Por outro lado, os aventureiros são eliminados. É como se fosse uma seleção natural da vida.

É importante os empreendedores saberem entender esse fenômeno e não ficar tentando jogar com ele, especulando e inventando fatos, como fez o filho do empreendedor da história acima. Tentar prever o futuro é impossível, o que é possível é inventá-lo, como disse o lendário Peter Druker. Isso nos arremete o conceito de que temos que construir nossos empreendimentos sobre bases fortes para que nenhum vendaval possa destruí-los. Temos que saber claramente o que queremos para os nossos empreendimentos e trabalhar cultuando uma visão e uma missão para que os objetivos e as metas sejam atingidos. Nunca se pode deixar de trabalhar e produzir para ficar prevendo e julgando o que pode ou não acontecer no futuro. Um empreendedor que se preze, tem um propósito claro daquilo que precisa ser feito e o seu tempo é usado para construir e promover o crescimento, da empresa e de todos que estão envolvidos nela.

Dentro desta linha de entendimento, concluímos que nada de bom ou de ruim acontece por acaso, sendo que ambas as situações são frutos das nossas atitudes. O trabalho feito com paixão faz florescer os nossos desejos empreendedores, e será a nossa inspiração, para sempre que houver uma crise, sairmos dela mais fortes do que entramos. Que possamos enfim, ver os momentos difíceis como uma benção para a consolidação dos nossos negócios.

Nilson Bessas Presidente do Conselho de Administração e Diretor Comercial/Financeiro do Sicoob Lagoacred Gerais. E-mail: nilson@lagoacred.com.br
Nilson Bessas
Presidente do Conselho de Administração e Diretor Comercial/Financeiro do Sicoob Lagoacred Gerais.
E-mail: [email protected]
jc1140x200
Abrir o WhatsApp
Como podemos ajudar?
Olá, como podemos ajudar?