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Não chame mais ninguém de burro | Artigo

O senso comum costuma classificar pessoas como inteligentes ou burras. Assim, a inteligência é vista como um contínuo com variações apenas de intensidade, não de tipo. Essa forma popular de ver a inteligência possui até respaldo científico, já que a medição do Quociente de Inteligência (QI) a coloca dentro do contínuo, ou seja, em uma ponta ficam as pessoas com retardo mental e, na outra, as com superdotação. No meio, ainda que com pequenas variações de intensidade, as pessoas normais. Essa forma de ver a inteligência foi radicalmente transformada pelo psicólogo americano Howard Gardner, com a introdução da Teoria das Inteligências Múltiplas.

A forma tradicional de ver a inteligência é uma meia verdade. O QI é verdadeiro porque útil para avaliar as variações de intensidade da capacidade intelectual, mas falso porque não contempla outros tipos de inteligência. Em outras palavras, é uma meia verdade ainda necessária.

As habilidades humanas são múltiplas e, como qualquer pessoa pode observar, não deriva do tamanho do QI. Há inteligências que escapam ao contínuo da capacidade intelectual. A inteligência musical, por exemplo, pode se manifestar com alta intensidade em pessoas sem muita inteligência lógico-matemática. Uma metáfora melhor para essa nova forma de ver a inteligência seria uma rede integrada de funções mentais, porém relativamente independentes.

Segundo Gardner, existem oito tipos diferentes de inteligência. Esses tipos se manifestam com variações de intensidade em cada pessoa. Assim, algumas têm um tipo específico de inteligência mais desenvolvido do que outras. E isso não significa necessariamente que são mais inteligentes. No caso concreto, pode significar apenas que possuem capacidades intelectuais distintas.

Os oito tipos de inteligência são:

  1. Linguística: domínio da linguagem e facilidade em usar as palavras ou desejo de explorar suas possibilidades. Própria de poetas, escritores, linguistas.
  2. Espacial: capacidade de compreender o mundo visual, modificar percepções e recriar experiências visuais mesmo sem estímulo físico. Comum em arquitetos, artistas, escultores, cartógrafos, navegadores, enxadristas.
  3. Lógico-matemática: habilidade para confrontar e avaliar objetos e abstrações, bem como discernir suas relações e princípios subjacentes. Típica de matemáticos, cientistas, filósofos.
  4. Musical: competência para ouvir, compor e executar obras com intensidade e ritmo. Pode estar relacionada a outras inteligências, como linguística, espacial e corporal-cinestésica. Aguçada em compositores, maestros, músicos, críticos de música.
  5. Físico-cinestésica: capacidade de controlar e comandar movimentos do corpo e manejar objetos habilmente. Bastante desenvolvida em dançarinos, atletas, atores.
  6. Intra e interpessoal: possibilidade de determinar humores, sentimentos e outros estados mentais em si mesmo e em outros. Presente em psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, políticos, líderes religiosos, antropólogos.
  7. Naturalista: talento para reconhecer e categorizar objetos naturais. Biólogos e naturalistas costumam ter essa habilidade.
  8. Existencial: facilidade para aprender questões amplas, fundamentais da existência. Própria de líderes espirituais, pensadores, filósofos.

Esses tipos de inteligência costumam ser chamados pelo senso comum de talentos ou dons. O craque de futebol, por exemplo, é visto como talentoso, não como alguém com inteligência físico-cinestésica. Todavia, essa forma tradicional de ver as habilidades humanas negligencia a capacidade intelectual envolvida no exercício de solução de problemas presente nas oito áreas da inteligência.

Por valorizar a diversidade que compõe a capacidade intelectual do ser humano, a Teoria das Inteligências Múltiplas possui ainda um efeito ético importante, já que reconhece a potência muitas vezes invisível de pessoas não valorizadas socialmente. Embora continue existindo pessoas mais inteligentes do que outras, agora é preciso perguntar em qual área ou em qual tipo de inteligência. Não chame mais ninguém de burro sem antes avaliar o grau de todos os oito tipos de inteligência.


Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo. Atende no Consultório de Psicologia Unitas, no Lagoa Shopping. Contatos: (37) 99828-6290 (Vivo), (37) 99924-2528 (Tim) e [email protected]

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