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Maurinho, bebida e a moça da festa | Artigo

Maurinho sempre foi um garoto para quem se tirava o chapéu. Toda a sua vida sempre foi muito bom filho. Um exemplo mesmo. Tirava boas notas, muito estudioso, ajudava a mãe nas tarefas domésticas sem reclamar, ajudava a sua mãe a olhar sua avó, já com mais idade e para quem a tudo tinha que auxiliar, inclusive no banho.

O pai acordava de madrugada e chegava apenas à noitinha. Vez por outra ia com o pai para a roça, ajudando-o na lida com o gado. Dia de feriado, sábados e às vezes no domingo, ia com o pai para a roça. Também nas férias, auxiliava o pai. Ele contava com Maurinho nas férias para reformar o paiol, os telhados das casas e dos currais, bem como cercas, arames, chiqueiro, galinheiro e a reforma dos canteiros. Muito trabalhador.

Casou-se com Mariana e tiveram uma linda filhinha. Não obteve profissão. Trabalhava aqui e ali, sendo que em dado momento na vida as coisas apertaram. Mariana estudou, se formou e por influência da família dela que era da capital, mudou-se para lá. Maurinho não foi… Sua vida em cidade pequena amedrontou-o. Enfim, depois de dois anos, Mariana indo e vindo da capital para a pequena cidade da família de Maurinho, ela pediu o divórcio e se foi, de vez.

De seis em seis meses a irmã de Maurinho vai até a capital buscar a menina para passar férias junto deles. Cresceu, já está mocinha. Maurinho, apesar do vento contrário, continuou com a sua vida de prestatividade e auxílio para com todos da família e para com os de fora. Um dia desses atrás, teve uma festa na cidade.

Jocão convidou o Maurinho, pagando-lhe o ingresso. Maurinho nunca gostou de festas, de multidão. Nunca bebeu, nunca fumou. Detestava ambientes com música alta. Música eletrônica então? Nem pensar. Neste dia Maurinho resolveu ir. Pacientemente, ajeitou uma roupa qualquer e, entrando na caminhonete do Jocão, rumaram para a cidade vizinha à deles, Ituiutaba, para assistirem a tal festa.

Chegando lá, Maurinho se instalou numa mesa ao lado do balcão do bar. Apreciando o movimento, ficou em pé e encostou-se na parede. Qual não foi a surpresa de todos quando uma mulher estonteante, linda, dessas da televisão, rumou para os lados do Maurinho, empurrando-o contra a parede e passando as mãos nos seus lábios, pegando em seu pescoço, gritou em um dos ouvidos do Maurinho que ela queria dar-lhe um beijo. Mas que seria um beijo do qual ele nunca ouvira falar… Que seria um beijo que ele nunca havia ganhado de ninguém…

Disseram que era uma mulher tão linda, mas tão linda, que todos os homens e mulheres, inclusive, pararam e voltaram-se para a mesa do Maurinho e do Jocão para assistirem a mulher. Provocante, passava os dedos na parte de cima do vestido (curtíssimo), acompanhados pelos olhos do Maurinho que não acreditava no que ele estava vendo.

Maurinho foi em sua direção para abraça-la, mas ela não permitiu. Disse a Maurinho que daria nele um beijo, mas antes, ele teria que tomar “uma bebida” que estava sobre a mesa. Maurinho, apesar de nunca ter tomado bebida ‘forte’ na vida, a contragosto aceitou. Tomou a tal bebida no copo dela.

Disse Maurinho que apesar de ser forte, adstringente, não tinha cheiro nem gosto. Parecia aguardente… não soube explicar.

Tomou e partiu direto pra cima da mulher. Ela chamou-o para subirem até o terraço, de lá para a varanda que ficava no segundo andar do lugar no qual se encontravam. De lá, assistiam o show. Da parte de baixo todos os amigos do Maurinho, entusiasmados com a performance do moço simples, da cidade pequena, gritavam seu nome.

Ele ficou doido com a moça. Beijou, abraçou, curtiu (amassou), assentou-se, ficou em pé, ficou doido. O Jocão, lá pelas tantas, com o dia amanhecendo, foi buscar Maurinho que ficou estatelado, sentado em uma cadeira, jogado, morto…

Jocão acordou-o e, levando-o para o carro, perguntou sobre a moça, tendo Maurinho respondido que não sabia nada dela. Que não sabia endereço, nem telefone, nem mesmo o seu nome. Quando Maurinho perguntou os dados da moça, ela simplesmente respondeu que era para aproveitar a noite, porque depois daquele momento, ele nunca mais a veria.

Depois daquele dia, Maurinho passou a beber copiosamente. Muito. Muito. Muito. Dizem os pais que Maurinho passa o dia bebendo. Já gastou o dinheiro da casa, do carro, da moto; já não envia mais a pensão da filha; não dorme em casa, só na rua; vive caído pelos cantos; virou chacota, piada na cidade.

Quando o veem na rua, dizem que a mulher o deixou “zureta” das idéias. Que ele ficou tão apaixonado pela mulher que perdeu o juízo, essas coisas. Maurinho nunca mais foi o mesmo. Não ajudou mais a mãe, não ajudou mais o pai. A avó morreu, ele nem no velório foi.

Por ter sido bom filho a vida toda, até mesmo a polícia leva-o em casa após as suas bebedeiras.

Ficou assim, depois que tomou a bebida da mulher “bonita” da festa. Perguntei ao contista que mais alguém tomou da bebida da mulher, tendo dito que quando perguntou aos amigos que estavam junto com Maurinho no dia sobre a mulher, ninguém dela se lembrava, com exceção dele e de Jocão.

Acerca das fotos que tiraram da mulher, disseram que após reveladas (na época, tinham que revelar o ‘filme’ das máquinas de tirar fotos), a tal mulher vistosa não aparecia nos retratos. Só o Maurinho, agarrado na cintura invisível, ante o olhar incrédulo do Jocão, que ficou ao lado dele todo o tempo.

Histórias que o povo conta…

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