José Antônio – O Sapato Preto e a Formatura
Em 1982 eu lá com os meus 12 anos já trabalhava lá no bar do Taquinho, o pai do Carlos Eduardo. O Boteco do Taquinho ficava na rua Dr. Álvaro Brandão, acima da linha férrea, onde hoje é açougue do Nardo Cabral.
O Taquinho às vezes falava que eu não precisava jantar em casa, aí eu limpava aquelas vitrines tudo, eu passava até mal do “estamo”. Naquela época trabalhava comigo o Ronan do Elisiário, hoje o Ronan da ambulância, e Robertinho, que hoje tem um barzinho na saída pra Lagoa da Prata.
Um certo dia chegou a minha formatura e eu deixei para conversar com o Taquinho depois das 14 horas. Aí eu disse: – Ô Taquinho, a professora Baângela pediu para que o meu sapato seja pretinho no dia da formatura. E naquela época eu não tinha sapato e nem tinha o dinheiro para comprar, usava só aquelas congas chulezentas. Eu estudava na Escola Waldomiro de Magalhães Pinto, onde a diretora era a dona Norma.E o Taquinho nesse meio tempo disse que me emprestaria o dinheir: -Ô Zé Antônio eu vou dar uma saída e volto agora mesmo.
Foi dando 14, 15, 16 e já ia dar 17 horas e esse Taquinho não aparecia , e a formatura tava marcada para as 17 horas. E eu fui ficando doido, e pensei: – Eu vou largar esse boteco aqui sozinho e “vô” pra formatura. Quando faltava 10 minutos para as 17 horas lá vinha o Taquinho andando devagarzinho, limpando os óculos. Eu voei na guela do Taquinho, e disse: – Taquinho a minha formatura é as 17 horas, e o meu calçado? Daí o Taquinho me disse: – Desce alí na loja do Alair, na Abadia Calçados (essa loja ficava entre o Banco do Brasil e a loja do André), onde hoje é a Vita Lanches, pra você comprar o seu par de sapato. É só falar que eu que pedi pra você ir lá.
E eu desci aquela Álvaro Brandão correndo, cheguei na loja e falei para o Alair: – O Taquinho mandou eu vir aqui apanhar um sapato. E ele falou : – Taquinho? Não tô lembrado qual Taquinho que é não.
E eu já estava desesperado, subi aquela rua igual um tiro no bar do Taquinho e falei: – Taquinho, o homem falou que não te conhece. E ele disse: É só você falar que é o Taquinho do Nô.
E outra vez eu desci aquela rua, e passei na linha de ferro voando, nem os “pé” eu coloquei nela. Cheguei na loja e falei para o Alair: – Alair ele mandou dizer que é o Taquinho do Nô. E ele disse: Ah, o Taquinho do Nô. Fala pra ele vir aqui então.
Eu já estava mais do que deseperado e falei para o Alair: – Eu preciso do sapato pra minha formatura que vai acontecer agora as 17 horas. Mas o homem não quis me entregar.
Subi outra vez aquela rua e peguei o Taquinho pelo braço e disse: – Pelo amor de Deus Taquinho ele falou para você ir lá. E ele foi naquela vagareza.
Chegando lá, eles ainda foram conversar e eu desorientado queria o sapato. Quando ele veio com o sapato eu peguei a caixa e saí pra rua igual um foguete. Eu cheguei no beco do Acácio, no fundo do Dom Bosco, e nem deu tempo de tomar banho e nem pentear o cabelo, só vesti a camisa branca, a calça azul marinho e o sapato preto.
Quando eu cheguei na escola já “tava” na minha vez e a professora Baângela e o Tõe da foto já “tava” me esperando. Pois bem, tirei a foto só que o danado do sapato não saiu.
Essa peleja toda, o Alair não me dando crédito, eu não tomei banho, não penteei o cabelo e o danado do sapato não saiu na foto.