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Formiga – Provedor concorda com nota da Prefeitura condenando a Sta Casa

No fim da tarde de terça-feira (11), o provedor da Santa Casa de Caridade de Formiga, Geraldo Couto, em companhia da ouvidora da Secretaria de Saúde e Presidente do Conselho Municipal de Saúde, Rita Salazar, se reuniu com a imprensa de Formiga para falar entre outros assuntos, sobre as prováveis causas da morte do jovem Júnio César Rocha e de problemas relacionados à Santa Casa e ao Pronto Atendimento Municipal (PAM).

Sobre a morte do jovem

Munido de estatísticas e entremeando suas respostas aos questionamentos com explicações técnicas, o provedor da Santa Casa fez prevalecer seus pensamentos a respeito do ocorrido, defendendo como não poderia ser diferente, a conduta dos profissionais que atuaram no “caso Júnio César”, desde sua entrada no PAM até o recebimento do paciente pelo hospital.

Geraldo afirmou que, apesar de não estar ciente de todos os procedimentos adotados no atendimento ao jovem, há informação de que, ao ser transferido para a sala de cirurgia, Junio estava com a pressão normal e que, até aquele momento, a hemorragia não havia se manifestado. Pra ele, dentro das limitações impostas pelo PAM e pela Santa Casa (inclusive falta de profissionais), o plantonista do Pronto Atendimento teria agido corretamente.

Nesse ponto, interpelado sobre a demora para a liberação da internação do jovem na Santa Casa, – (cujo pedido foi seu acolhimento para realização de procedimento ortopédico e não para paciente politraumatizado, como era o caso), – e que levou mais de 7 horas, mesmo estando a equipe médica ciente da gravidade do acidente que havia vitimado dois jovens instantaneamente, Geraldo disse que, não havendo cirurgião disponível naquele momento, obviamente, de nada adiantaria transferir o paciente, e concordou que houve SIM, falha, admitindo que um paciente politraumatizado teria que, pelo protocolo, ser atendido de imediato por um cirurgião, posteriormente por um ortopedista e um neurologista.

O médico esclareceu ainda que, ao longo de sua carreira como cirurgião, casos semelhantes ao do jovem (aqui se delongou em explicações técnicas sobre o caso), o levam a crer que dificilmente o desfecho do atendimento seria diferente como ocorreu de fato: com a morte de Júnio.

Porém, o médico, que descartou a denúncia de dificuldades de acesso ao banco de sangue por falta do profissional responsável (como denunciado pela família), não descartou a possibilidade de uma investigação mais apurada, como normalmente se faz nesses casos e que possam chegar a outras conclusões, que incriminem profissionais e exijam providências outras.

Santa Casa

Durante a coletiva, o provedor teceu um panorama sobre o funcionamento da Santa Casa, discorrendo tanto sobre questões relativas ao atendimento, quanto administrativas.

– Falta de profissionais

Sobre a falta de profissionais, especificamente de cirurgiões, o que ocorre permanentemente nos plantões, Geraldo informou que o correto seria manter esse profissional no ambiente hospitalar sob regime presencial, mas que, por diversas razões, aqui (em Formiga) não se consegue contratá-los nem mesmo sob o regime de “sobreaviso”.

Ele acredita que nos próximos meses, com a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), esse problema diminua.

Indagado sobre atrasos nos pagamentos da classe médica, em especial de obstetras desde o mês de fevereiro e se este poderia ser um dos motivos da falta de profissionais, o médico afirmou que não. Mais uma vez exibindo papéis, ele garantiu que pesquisa feita na região indica que a rotatividade de profissionais no hospital não pode ser considerada como excessiva e que a remuneração ofertada aos médicos, mesmo nos procedimentos SUS, não é de todo ruim. “Os valores estão dentro do mercado, mas há inconstância da parte do Estado e da União que não mantém a regularidade na quitação dos serviços prestados”, disse.

Especificamente no caso dos obstetras, que não recebem desde fevereiro, Geraldo explicou que nesse caso, os recursos já foram depositados pelo SUS, mas que por um erro no programa, não havia sido separados os procedimentos eletivos dos procedimentos SUS. Por isso, por determinação dele, desde março os pagamentos foram suspensos. “Agora, na próxima semana, concluídos os levantamentos, mais de 400, que estão todos sendo feitos manualmente, vamos aprovar a forma de quitação do débito que gira em torno de R$275 mil”.

Apesar de todos os problemas levantados, Geraldo Couto se diz otimista quanto ao futuro da Santa Casa e da UPA, desde que o os governos Estadual e Federal cumpram a promessa de arcar com os custos durante todo o primeiro ano de funcionamento da Unidade de Pronto Atendimento (recursos da ordem de R$2,5 mi, já negociados com o atual secretário de Estado de Saúde).

– Atendimentos de Urgência

Considerado como um dos problemas mais graves da saúde da cidade, o atendimento de urgência deverá melhorar de acordo com o provedor após a inauguração da Unidade de Pronto Atendimento e do início dos trabalhos do Samu , cuja implantação deverá ocorrer em breve.

Além disso, após essas inaugurações, deverá ser implantada na Santa Casa, de acordo com Geraldo, a “sala vermelha”. Esta será equipada de material (equipamentos e humano) que garantirá a não ocorrência de casos similares como o que ocasionou a coletiva: explicações sobre a morte prematura do jovem.

– Cirurgias e exames

Questionado sobre os inúmeros casos denunciados pela imprensa relatando pacientes de todas as idades que aguardam por meses as cirurgias ortopédicas, levando-se em conta que o hospital é referência nessa especialidade, o provedor mais uma vez recorreu aos dados estatísticos e explicou que no mês de outubro, das 389 internações, 273 foram de pacientes da cidade de Formiga, porém, tratam-se de intervenções em todas as áreas médicas.

Especificamente sobre a ortopedia, o provedor disse que os levantamentos indicam uma média de 78 cirurgias por mês, o que, obviamente, ainda não é o suficiente, pelo fato de que o hospital atende a macrorregião.

Ele lembrou ainda das dificuldades para internações, uma vez que hoje a Santa Casa possui 113 leitos, sendo 35 de UTI, e que o atendimento SUS é destinado apenas para 60% dos leitos.

Sobre a oferta de tomografias para o público em geral, recurso que, se feito a tempo poderia ter elucidado precocemente a possibilidade da hemorragia de Júnio, o que poderia ter dado ao caso dele um desfecho menos trágico, o provedor respondeu que o protocolo de politraumatizados indicaria esse e outros exames mais complexos como necessários, mas que infelizmente, por ano, para a Santa Casa, o SUS só disponibiliza 9 tomografias e 11 ressonâncias.

Ainda sobre a Santa Casa, o médico teceu comentários sobre as grandes modificações físicas ali havidas, as quais resultaram no aumento da oferta de serviços e que permitiu que o hospital viesse a ser inserido no planejamento de atendimento da macrorregião, aproximando-se na oferta de serviços e importância ao São João de Deus, de Divinópolis.

Paradoxalmente, (ao menos para nós) Geraldo informou que o São João de Deus na contratação de médicos, enfermeiros e técnicos também passa pelas mesmas dificuldades da Santa Casa de Formiga.

– Relacionamento com a Prefeitura

Sobre o relacionamento entre a atual administração com a direção da Santa Casa, que devido a convênio também é responsável pelos plantões médicos no PAM, o provedor da Santa Casa disse que, na atualidade, este tem sido o mais saudável em seu ponto de vista. Geraldo considera a atual secretária, Maria Inês Macedo, competente, apolítica e alguém que tem demonstrado sabedoria e crença de que em pouco tempo, cumprido o plano diretor da Santa Casa, o atendimento à saúde neste município, estará a contento.

Qualificando ainda mais Inês Macedo, Geraldo chegou a dizer que, diante da competência da mesma, que é enfermeira por formação, desejaria tê-la como membro da equipe dele na Santa Casa.

– Reconhecendo o erro

Perguntado sobre o que dizer da nota oficial da atual administração, colocando a responsabilidade pela morte de Junio César sobre “os ombros” da Santa Casa, Geraldo respondeu que do ponto de vista “administrativo”, o município está correto, porque realmente pelas razões expostas, não houve por parte do hospital a disponibilização da equipe médica mínima necessária para tal atendimento.

– Finanças

A Santa Casa está economicamente ajustada, garante o provedor que explicou durante a coletiva que a entidade tem cerca de R$2, 7 milhões para receber e apenas uma dívida de R$2,1 milhões (dívida que inclui fornecedores). Segundo ele, o superávit é de aproximadamente R$700 mil.

Dentre parcelas a receber, está a quantia de R$443 mil, referentes a um débito do município, constituído ainda na gestão passada.

É óbvio que vários outros assuntos que envolvem problemas de cunho administrativo da própria Santa Casa e que resultam em reclamações de usuários, ainda serão objeto de questionamento que serão feitos em oportunidade conveniente, hoje ainda, em entrevista já marcada com o Sr. João Soares, vice-provedor.

Resumindo a ópera

1) A saúde em Formiga, em especial em casos que devam ser encaminhados a Pronto Atendimento ou que exijam internações, está mesmo na dependência do bom funcionamento da Santa Casa;

2) Isto só estará garantido quando houver ali, equipe multiprofissional contratada e efetivamente trabalhando ou disponível, 24h/dia;

3) Nas condições atuais, em qualquer acidente de maior gravidade que exija cuidados para um ou mais pacientes, o melhor caminho a ser tomado, evidentemente, não é o da Santa Casa;

4) O funcionamento da UPA, assim como a instauração do Sistema Samu, estão umbilicalmente dependentes da Santa Casa, que repetimos, nas condições atuais não dispõe da equipe de profissionais exigida no acompanhamento destes casos, o que talvez melhor explique as razões do enorme atraso na inauguração daquela Unidade. Certamente a secretária de Saúde, sabe melhor que ninguém, o que isso significa. (sua inauguração sem a retaguarda de um corpo clínico especializado).

5) Importante deixar claro que apesar das diversas menções às possibilidades de se esclarecer de antemão a culpabilidade ou não de profissionais ou ainda de uma afirmação mais categórica de que houve erro ou omissão de qualquer forma disponível de socorro no atendimento do paciente, segundo o que se depreendeu da longa entrevista do provedor, isso só se dará dentro de alguns dias, após concluídas as investigações no âmbito administrativo que ele levará a efeito quando então, uma nota oficial será trazida a público.

Confira, na integra, a nota da Prefeitura:

“A Secretaria Municipal de Saúde considera que, da parte do PAM (Pronto-Atendimento Municipal), o atendimento ao paciente Júnior César da Rocha seguiu todas as normas e protocolos existentes. Diante da urgência do caso, toda a equipe se mobilizou e prestou os atendimentos de urgência necessários no prazo adequado. No momento em que a Santa Casa de Caridade foi acionada, a informação passada pelo hospital foi de que não havia cirurgião disponível.

A Prefeitura de Formiga paga à Santa Casa R$ 134 mil por mês para manter médicos plantonistas (clínicos gerais) no Pronto-Atendimento Municipal. Além disso, paga R$ 108 mil por mês para que a Santa Casa mantenha disponíveis médicos nas seguintes especialidades: cirurgião; obstetra; pediatra e clínica médica. Somando-se estes e outros valores que a Prefeitura paga à Santa Casa referentes a convênios, chega-se a R$ 3,2 milhões por ano.

Devido a falhas no cumprimento desses convênios, a Prefeitura já notificou a Santa Casa pelo menos quatro vezes, além de ter feito advertência por escrito. Já informou ainda toda a situação ao Ministério Público.

A Prefeitura estuda outras medidas cabíveis, inclusive jurídicas, e continuará fazendo de tudo ao seu alcance para garantir o adequado atendimento à população.

A Administração Municipal externa seu pesar à família e se coloca à disposição dos familiares para mais esclarecimentos”.

Fonte: Últimas Notícias

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