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Eu tenho o sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele

A frase que intitula este texto é de Martin Luther King, que foi um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. E hoje, dia 20 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra.

Em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 eram jovens de 15 a 29 anos e, desse total, 77% eram negras. A maioria dos homicídios foi praticada por armas de fogo, e menos de 8% dos casos foram julgados.

Estas informações são da Anistia Internacional. O tema, em geral, é tratado com indiferença na agenda pública nacional. As consequências ao preconceito e dos estereótipos negativos associados aos negros devem ser amplamente repudiadas.

Na Carta do Editor desta edição, trazemos um artigo escrito pela bancária Synara Nicolau.

Nascida em Lagoa da Prata, negra e de família pobre, venceu duplamente o preconceito – por ser negra e por ser mulher – e hoje ocupa um espaço de destaque em uma instituiçãofinanceira e na militância do Sindicato dos Bancários da região de Divinópolis.

COM A PALAVRA, SYNARA NICOLAU:

l“São tantos os desafios de ser uma mulher negra numa sociedade machista e preconceituosa como a nossa. Simples, é mais ou menos como falar de minha própria vida.

Mas de imediato me veio à lembrança o dia em que mostrei para meus catequizandos a minha biografia na revista Personalidades. Meus pequeninos ficaram indignados com o fato de estar escrito que eu sou negra e retrucavam em sua doce inocência que: – A senhora não é negra, é morena. Num sorriso eu apenas disse: – A tia é negra sim! E isso não é uma ofensa. Nossas crianças apenas reproduzem aquilo que todos os dias presenciam em casa, muna escola, na televisão e na internet. Onde o padrão de beleza, bondade e poder estão diretamente ligados ao ser branco. E o negro remete ao pensamento de horror, trevas e desastres.

Começamos a combater o preconceito quando abandonamos de vez os grilhões da escravidão e submissão de paradigmas e conceitos ultrapassados de que ser preto é ser menos.

Lembro que quando tomei posse no Banco do Brasil, uma amiga da minha mãe me perguntou se eu iria trabalhar como faxineira. Eu não me ofendi com a pergunta. Apenas respondi que teria também muito orgulho se essa fosse minha função no banco, mas que eu havia passado no concurso e trabalharia no atendimento ao público. Ela ainda brincou: – Mas vai ser só você de preta!

“Minha Preta”, era também o apelido carinhoso que minha primeira chefe no banco me deu. Um jeito carinhoso, de uma pessoa que acreditava que me chamar pela minha cor não era ofensa e sim um modo de mostrar seu carinho. E realmente não é! Eu sou preta… Fato!

Somos um povo forte e por isso resistimos a tantas coisas. Principalmente, nós, mulheres negras, que somos duplamente discriminadas, por sermos mulheres e por sermos negras.

Eu era chamada de Chipam por um companheiro. Apelido ‘carinhoso’, que na verdade queria, no decurso diário, justificar a forjada superioridade do componente racial branco, do patriarcado e do sexíssismo.

No Brasil vivem 49 milhões de mulheres negras, isto é, 25% da população. Vive face mais perversa do racismo e do sexíssimo. Sem falar na violência simbólica cotidiana, alimentada por uma mídia racista que invisibiliza e banaliza a participação na sociedade de mulheres negras.

Somos as maiores vítimas da violência doméstica. A cada 1 hora e 50 minutos uma mulher negra morre. Temos três vezes mais chance de sermos estupradas do que mulheres brancas.

Nossas batalhas solitárias por justiça num quadro de extrema violência racial, denunciamos a violência doméstica, os maus tratos e homicídios de mulheres negras.  Lutamos pelo fim do racismo e da intolerância que promovem a exterminação da população negra no Brasil”.

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