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Artigo: Dislexia: um problema a ser conhecido e tratado

Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Contatos: [email protected] e (37) 99924-2528.

Muita gente já ouviu falar em dislexia, talvez conheça alguém que tenha, mas quase nada conhece sobre o transtorno. Até professores muitas vezes não estão preparados para lidar com o problema – nem mesmo para reconhecê-lo. Contudo, uma em cada dez pessoas apresenta sintomas de dislexia, segundo a Associação Internacional de Dislexia. Acontece frequentemente de o transtorno ser confundido com preguiça, falta de atenção ou má alfabetização, o que leva pais e profissionais a pressionarem a criança por melhores resultados, cobrando mais esforço e concentração. O problema é que essas atitudes apenas aumentam a dificuldade da criança, causando atraso escolar e gerando sentimentos de inadequação, que se manifestam como baixa autoestima, medo de ir à escola e de estudar e isolamento.

O melhor caminho, como em muitos outros transtornos, é reconhecer o problema como ele é, ou seja, fazer o diagnóstico apropriado – e o mais cedo possível. Quanto mais rápido o tratamento começar mais chance a criança tem de se desenvolver normalmente. Muitos profissionais de sucesso que entraram para a história apresentavam sintomas de dislexia, como o pintor francês Pablo Picasso, o primeiro presidente estadunidense George Washington, a escritora inglesa Agatha Christie, o pintor italiano Leonardo Da Vinci e o físico alemão Albert Einstein. Isso quer dizer que disléxicos são mais inteligentes que a maioria das pessoas? Não. Apenas que não são menos inteligentes do que ninguém, que a capacidade intelectual deles não é afetada e que podem se desenvolver normalmente, desde que recebam o tratamento adequado.

Em definição geral, a dislexia é uma desordem no processo de apreensão de informações pelos meios tradicionais, o que compromete a habilidade de leitura e escrita. Como a leitura é fundamental para a aprendizagem escolar e ainda hoje inúmeras escolas brasileiras não estão preparadas para adequar os meios de ensino aos alunos disléxicos, muitos deles acabam sofrendo enorme atraso e desenvolvendo problemas emocionais em decorrência da inadequação social. Os indícios mais comuns do transtorno são: ler mal ou muito devagar, ter dificuldade de reconhecer letras e trocar as letras nas palavras. Frequentemente, disléxicos têm dificuldade de associar a letra ao som e com lateralidade, confundindo direita e esquerda e escrevendo de forma invertida, como “ovôv” (em vez de vovô) e “saca” (em vez de casa). Ocorre também de omitir letras ou sílabas, como escrever “poblema” (em vez de problema), e de confundir letras com grafia similar, como n-u, w-m, a-e, p-q, p-b e b-d. Outro indício do transtorno se mostra quando a criança não consegue ler sem acompanhar a leitura com o dedo, comportamento que a ajuda a focar e, assim, compreender o que está lendo.

O diagnóstico da dislexia costuma ser feito nos primeiros anos de alfabetização, entre 7 e 9 anos de idade, quando as dificuldades com leitura e escrita se tornam evidentes. Contudo, alguns sinais do transtorno podem estar presentes desde bebê, como dificuldade para aprender a falar, andar e na coordenação motora fina, como incapacidade para pegar um lápis. É ainda comum a criança com dislexia ter alergia ao hormônio testosterona.

A Associação Brasileira de Dislexia recomenda que o diagnóstico seja feito por uma equipe multidisciplinar, com base em avaliações feitas por psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, neurologista e psiquiatra. O transtorno pode ser classificado como leve, moderado ou grave e, para dificultar um pouco mais o diagnóstico, existem muitos distúrbios que causam prejuízos na leitura e escrita e há ainda comorbidades que não raro acompanham os disléxicos, como a deficiência mental, o déficit de atenção e a hiperatividade. Por isso a necessidade de avaliações multidisciplinares. Obviamente, o diagnóstico equivocado só piora o problema.

O tratamento para pessoas com dislexia é feito apenas por adequações nos meios de ensino, pois não há cura para o transtorno nem medicação capaz de diminuir os sintomas. Entretanto, as mudanças são simples, apesar de requererem dedicação dos pais, professores e da escola. É necessário: dar mais tempo para o aluno fazer as provas, pois ele pode demorar para compreender o texto; ler os enunciados para ele, já que a leitura é um processo desgastante e não raro incompreensível; que o professor cheque se o aluno está compreendendo o texto e, às vezes, ajude-o no momento de transcrever as respostas, verificando o que está querendo dizer; deixar que o aluno sente-se o mais próximo possível do professor, para evitar distrações; aumentar o tamanho da fonte dos textos escritos, o que diminui a chance de confundir as letras; e, por fim, que o professor seja mais condescendente com os erros de escrita, valorizando mais o significado que o aluno quis transmitir. Além disso, convém descartar o aprendizado de línguas estrangeiras como critério de promoção, pois é uma das disciplinas mais difíceis para o disléxico.

Verificada a incapacidade do aluno de aprender pelos meios tradicionais, é a escola que precisa se adaptar ao aluno, não o contrário. É assim que se faz inclusão escolar. Com as condições adequadas, o aluno com dislexia se desenvolve normalmente, conseguindo adentrar em uma faculdade e ser um profissional de sucesso como qualquer outra pessoa. O estado brasileiro reconhece a dificuldade do aluno com dislexia e propicia condições especiais para alguns exames, como o vestibular e a habilitação para motorista. Basta solicitar para ter acesso às condições especiais. A Associação Brasileira de Dislexia ministra cursos gratuitos para educadores sobre como lidar com pessoas com o transtorno, os quais também podem ser solicitados. Informações adicionais, como material de apoio, estão no site da associação: www.dislexia.org.br. Existe ainda em nosso país a Associação Nacional de Dislexia, que oferece muitas dicas a pais e professores pelo site www.andislexia.org.br. Que fiquemos todos atentos para ajudar quem mais precisa de nós!

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