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Chica Ganância | Artigo

Foto: Ilustração / Reprodução da internet

O pau quebrou na rua de cima, disseram os moradores no ponto de ônibus. Na casa do Juca Lobato? Sim responderam todos. Todos já haviam se acostumado com as brigas naquela casa.

O Zé Lobeira era sempre culpado por todas as confusões. Sem a bebida era uma pessoa calma e responsável. Com a bebida, passava a ficar agressivo. Muito forte, onde pegava o seu braço ficava no mínimo um hematoma.

A Polícia já rumou pra lá, mas os vizinhos intrometeram todos na confusão que se tornou generalizada. O Zé Lobeira pelo visto tinha aprontado das suas.

Era assim toda a vez que ele bebia a “Lobatinha”, pinga de Lagoa da Prata da qual a Chica tinha pavor. Dizia ela que toda vez que o Zé Lobeira tomava dessa pinga “entrava nele um espírito ruim, um demônio, sabe-se lá o quê… E o Zé passava a aprontar… Batia nela, batia nos filhos, batia na sogra…

Chamavam o irmão dele, o Afonso e este apanhava também. O Afonso era o irmão mais novo dos seis. Contudo apenas ele e o Zé eram homens. O Zé o mais velho, o Afonso o mais novo, e a briga estava feita.

Até mesmo o Dr. Gonçalves, aquele que era bombeiro, tomava lá os seus arrancos, toda vez que estava em casa e vinha tentar separar o infortúnio. Contudo, dessa vez, parecia que a coisa estava diferente. Todas as pessoas que poderiam auxiliar em alguma coisa intervieram, sem sucesso. A polícia chegou.

Entre os componentes da guarnição, um deles, forte, moreno, de óculos, sorriso aberto, de riso fácil e calma sem medida, desceu da viatura e posicionando-se ao portão da residência, perguntou pelos donos da casa. A Chica saiu dos fundos da residência recepcionando os policiais, xingando o Zé Lobeira de tudo quanto era nome.

Depois da palestra da Chica, o policial militar adentrou na casa, indo ter com o Zé no quintal. O Zé estava realmente muito nervoso, com um podão na mão, gritando que não gostava de ninguém da sua casa, que não gostava dos filhos, nem dos vizinhos, nem da polícia, nem de ninguém…

Disse que aquela era a última vez que ele iria brigar. Que iria resolver tudo naquela noite.

Das outras vezes, os policiais deram lá o seu jeito para prenderem o Zé. Usaram de tudo: spray de pimenta, cassetete, tonfa, bomba, tiro de borracha e uma vez um louco deu no Zé um tiro que pegou de raspão no bico da botina de ferro, quebrando o seu pé e dois dos dedos.

Todos ficaram na expectativa de assistir a mais um dos capítulos dessa novela. Contudo, para espanto de todos, o policial pediu para a dona Nescência um copo de café. Os vizinhos estranharam a atitude do policial. Nem olhou para o lado do Zé. Deixou-o no seu canto, com o podão nas mãos.

O Zé gritava lá que iria fazer picadinho de PM. O policial nem ligou. Assentou-se na paredinha’ e ficou perguntando para a dona Nescência coisas sobre os filhos e sobre a infância. Depois de vinte ou trinta minutos de conversa, o policial perguntou para o Zé porque ele estava daquele jeito.

O Zé contou toda a história, desde o início, desde o namoro, desde o casamento, desde o nascimento dos filhos e todo o desenrolar da história. Os vizinhos foram embora… Os parentes foram embora… Os curiosos foram embora…

O policial pacientemente, depois de três ou quatro copos de café bem quente, pediu ao Zé que soltasse o podão e que se assentasse com ele na paredinha; pediu para o Zé tomar café, o que ele fez com muito gosto. Mais calmo, o Zé pediu desculpas à sogra, dona Nescência, aos filhos, bem como aos integrantes da guarnição policial.

O Zé disse que toda aquela briga, aliás, todas as brigas, eram por causa da Chica e sua “fome de dinheiro”, sendo que todos esses anos ela o atormentava por causa do salário.

O policial deu um abraço no Zé, um abraço na dona Nescência, cumprimentou a todos que estavam na frente da casa e rumou para a viatura.

A Chica virou-se para o policial e chamou-o de frouxo. Disse ela que se fosse para conversar com ela, tinha chamado era o padre e não a polícia.

O policial demonstrando que sua paciência era mesmo inesgotável, disse para ela calar a boca, chamando-a de “Chica Ganância” ao final, para riso de todos, inclusive do Zé Lobeira.

Histórias que o povo conta…

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