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A busca pela felicidade

Rodrigo Tavares Mendonça é psicólogo e especialista em psicoterapia de família e casal pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Contatos: [email protected] e (37) 99924-2528.

A palavra felicidade pode ser definida de infinitas maneiras, mas vejo dois sentidos mais comumente usados. O primeiro é fugaz. O concurseiro que passa no concurso almejado ou o aventureiro que faz a viagem dos sonhos certamente ficam felizes. Porém a felicidade dura pouco, logo o humor do concurseiro ou viajante volta ao normal. Acostumam-se novamente à rotina. O segundo sentido é perene. Pessoas perguntam: você é feliz? Não é todo dia que se passa no concurso ou se faz a viagem dos sonhos, então a pergunta se refere a uma felicidade cotidiana. Está implícito na pergunta que a rotina também pode trazer felicidade. Será?

Em nossa sociedade atual, dinheiro talvez seja o objeto mais almejado para conseguir felicidade. Em geral, queremos viajar, morar em uma boa casa, andar em um carro confortável, comer e beber em excelentes restaurantes e mais incontáveis sonhos que cada um guarda dentro de si. Há, ainda, uma característica menos nobre na vontade de ter dinheiro: a exibição de superioridade sobre aqueles que têm menos. Entretanto, a questão que atinge todos, independente do uso que se faz dele, é se a felicidade está na linha de chegada, se ao possuir tudo que queremos seremos felizes. Estranhamente, porém, essa resposta não é essencial para se continuar buscando, ou seja, as pessoas quererem algo mesmo sem saber se terão felicidade depois. O que ocorre é que não estamos atrás da felicidade, como aprendemos a acreditar. O que buscamos é o prazer. Confundimos excesso de prazer com felicidade, como se mais e mais prazer fosse a fórmula da felicidade. Reside nesse entendimento uma das grandes frustrações contemporâneas, uma espécie de trapaça: o capitalismo fomenta o consumo, o mercado cria um mundo de felicidade plena para os bem-aventurados que chegam ao topo, as pessoas se esforçam para chegar lá, mas não é isso que as espera quando finalmente chegam. É uma armadilha. Infelizmente, felicidade não está à venda.

A relação entre dinheiro e felicidade, no entanto, é um pouco mais complexa. Incorrem em erro tanto os que pensam que dinheiro traz felicidade quanto os que pensam que não traz. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Vivemos em uma sociedade capitalista cuja moeda de troca para aquisição de bens materiais e imateriais é o dinheiro. Após uma famosa pesquisa, o sociólogo holandês Ruut Veenhoven concluiu que o dinheiro se relaciona com a felicidade até certo ponto. Quem não tem suas necessidades básicas satisfeitas, como alimentação, segurança, moradia e trabalho, necessitam dele para ter felicidade. Após ter o básico, o nível de felicidade das pessoas em geral se mostra o mesmo, sofrendo apenas variações individuais. Faz sentido. Se a busca contemporânea é pelo excesso de prazer, sensação capaz de ser proporcionada pelo dinheiro, a felicidade não está na linha de chegada. O caminho no qual estamos andando – ou correndo – não é o que almejamos de verdade. E a felicidade não admite atalhos.

Então, como consegui-la? A famosa frase do monge vietnamita Thich Nhat Hanh nos traz uma interessante reflexão sobre a busca pela felicidade. Ele disse: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”. Assim, levando ao pé da letra, não existe busca pela felicidade também. O próprio ato de buscá-la traz em si um erro de origem, um engano fundamental. O que buscamos, então? Novamente: o prazer. Como seres humanos, animais racionais desejantes, buscamos o prazer, a satisfação de nossos desejos – não de nossas necessidades, convém frisar. Acreditamos que satisfazendo nossos insaciáveis desejos seremos felizes. Contudo, a satisfação de um desejo dura pouco, o que sobra é só mais desejo. E assim, passando por satisfações e insatisfações e incontáveis altos e baixos, levamos a vida. Todavia, se queremos a felicidade, precisamos caminhar de outra forma. Em outras palavras, precisamos parar de buscá-la e mudar a forma como olhamos para a vida.

O monge francês Matthieu Ricard faz uma interessante distinção entre prazer e felicidade. Na visão dele, prazer são sensações fugazes que nos trazem bem-estar, satisfação. Elas vêm e vão a todo momento, como a saciedade após o almoço e o orgasmo durante o sexo. É uma espécie de combustível para a vida. A felicidade, por outro lado, é marcada pela constância. Assemelha-se ao que costumamos chamar de paz de espírito, um estado de ânimo que se mantém relativamente estável às intempéries da vida, mesmo em vivências de sofrimento. A felicidade, assim definida, é uma forma de ver a vida. De certa forma, é sentir alegria por viver. E isso, muitas vezes, não é algo que se conquista com facilidade. É necessário purificar o espírito, como dizem os budistas, ou, em outra linguagem, libertar-se das amarras existenciais. Alcançar o equilíbrio emocional necessário para viver em paz não raro exige esforço, dedicação, compromisso e renúncia de desejos e satisfações que nos distraem de nossos propósitos. A capacidade de renunciar ao prazer imediato é aqui um dos princípios para se alcançar a felicidade. Tal visão está na contramão da ideia vendida pelo mercado. Vendo-a assim, parece que anda de mãos dadas com o que estamos acostumados a chamar de amor.

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