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Atletismo dá nova perspectiva e muda vida de irmãs de Japaraíba

Após mãe deixar cidade de origem em busca de vida melhor para os sete filhos, Leydiane e Islane aderem a projeto social e conquistam resultados expressivos

Correndo para vencer. O nome de um projeto social talvez nunca tenha feito tanto sentido na vida de alguém como para as irmãs Islane Pereira Lopes, de 18 anos, e Leydiane Lopes Ramos, de 14. Japaraíba, no Centro-Oeste de Minas, foi o lugar encontrado pela mãe delas, Aparecida Pereira Lopes. Correu para lá, pois a renda de R$ 20 por dia no Norte do estado não era suficiente para sustentar sete filhos. Foi também em Japaraíba que as irmãs ingressaram no atletismo. Islane abriu caminho para os resultados expressivos após entrar no projeto social. Foi recordista nos 1000 m com obstáculos no Brasileiro de Atletismo de Mirins Interclubes, em 2012, e ficou em terceiro no Mundial, em Sokolov, na República Tcheca, em 2013, nos 2000 m com obstáculos.

Inspirada pelo legado da irmã mais velha, Leydiane seguiu o mesmo caminho. Na edição do Campeonato Brasileiro deste ano, disputado em outubro, em São Paulo, assumiu o posto de recordista, que há três anos havia sido da irmã. Januária, Japaraíba, São Paulo, Sokolov. Mudam as cidades. Mudam os obstáculos. Só não muda a vontade de correr.

As fábricas de fogos de artifícios e as usinas de Japaraíba significavam oportunidade para  Aparecida Pereira Lopes, mãe de Leydiane e Islane, e para vários moradores de Januária que também saíram do Norte de Minas. Aparecida foi, mesmo sem conhecer ninguém. Apesar de tudo, Leydiane acredita que a – única – opção foi correta. “Minha mãe não teve escolhas. Divorciada e com muitas dificuldades financeiras em Januária, não era possível nos sustentar. Viemos para Japaraíba, literalmente, com a cara e a coragem. Nesta época nunca tínhamos viajado para tão longe. Também não tínhamos moradia e nem conhecíamos ninguém. Mesmo assim, foi a melhor decisão que nossa mãe pôde tomar”, lembrou Leydiane.

Elas chegaram em 2008 à nova cidade, mesmo ano em que começou a ser desenvolvido um projeto voluntário de atletismo criado pelo professor de Educação Física Júnior Antônio Lopes: Correndo para Vencer. Islane foi quem puxou a fila da família e, depois de ser convidada, ingressou no projeto social. Do dia do “aceito” até os primeiros resultados positivos foi um caminho rápido: em 2012, no Rio Grande do Sul, recorde nos 1000 m com obstáculos no Campeonato Brasileiro de Atletismo de Mirins, categoria até 15 anos, com o tempo de 3m16s. Em 2013, foi selecionada para participar do Mundial em Sokolov, na República Tcheca, e terminou em terceiro nos 2000 m com obstáculos.

“Quando eu tinha 11 anos o professor de educação física me convidou para participar dos treinos na escola. Foi lá que descobri a minha paixão pelo atletismo. Tudo que tenho hoje foi graças ao esporte: conheci vários lugares e com o dinheiro que o atletismo me proporcionou posso pensar em fazer faculdade e ajudo minha família financeiramente”, ressaltou Islane.

Os resultados serviram de inspiração. Leydiane observava a irmã e também procurou o atletismo, que ela considerou uma oportunidade de crescimento. Se depender dela, o legado da família no atletismo vai continuar. Com 13 anos, a caçula ficou em segundo lugar nos 1000 m rasos nos Jogos Estudantis de Minas Gerais. O resultado valeu vaga para os Jogos Escolares da Juventude, no Paraná, o primeiro campeonato nacional da esportista. Neste ano, no último dia 8 de outubro, repetiu a conquista da irmã: recorde nos 1000 m com obstáculos no Campeonato Brasileiro de Atletismo de Mirins, categoria até 15 anos, com o tempo de 3m13s35.

Leydiane integra o clube de atletismo Clã Delfos, de Belo Horizonte, e participa das competições representando o clube. Os treinos são realizados no complexo de lazer da cidade de Japaraíba. Apesar da estrutura carecer de recursos e equipamentos, o resultado tem sido satisfatório. O segredo, segundo Leydiane, é a determinação e a força de vontade em querer vencer. “Eu treino de segunda a sexta, há mais ou menos três anos. Sei das dificuldades que passamos por causa da falta de equipamentos nos treinamentos, falta de recursos financeiros para viagens. Por isso mesmo, ter ganhado este campeonato foi uma sensação maravilhosa, estou muito feliz. Confesso que não acreditei quando vi o resultado. Fiquei surpresa, eu não esperava que iria conseguir“,disse.

Com o resultado em São Paulo, a atleta Leydiane tem direito de pleitear o Bolsa-Atleta Estadual, benefício que poderá pagar uma bolsa de R$ 9 mil em 2016.

ORGULHO DA MÃE E DO “PAIZÃO”

Não por um acaso, o treinador Júnior Lopes é chamado de “paizão” pelas meninas. Com ele, elas dividem os méritos das conquistas. “Ele é um treinador hiperdedicado. Nunca mediu esforços para qualquer que fossem as circunstâncias. Ele é um paizão para mim”, afirmou Leydiane.

Júnior se orgulha de sempre ter acreditado no potencial dos alunos. Motivo suficiente para incentivá-los sempre. No caso das irmãs, ele contou que os resultados só foram possíveis devido à dedicação delas. “Tem muita gente com talento, mas o que eu precisei foi de pessoas com determinação e que acreditassem em mim. Foi devido o treinamento intenso que tanto a Islane, quanto a Leydiane chegaram onde estão. O resultado não poderia ser diferente. As duas se esforçam muito, treinam pesado diariamente e estão correndo atrás dos sonhos”, comentou o treinador.

O atletismo está mudando a vida da família, que antes sofria com a falta de oportunidades. A mãe de Islane e Leydiane, Aparecida, contou que é uma alegria vivenciar a mudança de perto e ver as filhas terem chances que ela não teve. “O atletismo melhorou muito a vida das minhas meninas. Ajudou na disciplina, no cumprimento dos deveres e auxiliou no amadurecimento delas, que repassam para os outros irmãos. Sem contar com as oportunidades de conhecer diversas cidades, países diferentes e ainda me ajudar com as despesas da casa“, concluiu.

Por: Globo Esporte.

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